Os bairros e suas bandas: conheça Salvador por conjuntos musicais famosos

Roteiros
Escadarias do Candeal. Foto: Amanda Oliveira.
Pelourinho. Salvador Bahia. Foto: Uiler Costa
Praia São Tomé De Paripe Salvador Bahia. Foto: Amanda Oliveira .
Ilê Aiyê na Liberdade. Foto: Assessoria
Olodum. Campo Grande. Foto: Arquivo da Prefeitura
Praia São Tomé De Paripe Salvador Bahia. Foto: Amanda Oliveira .
Pracatum, no Candeal. Foto: Amanda Oliveira.
Candeal. A Bica. Foto: Amanda Oliveira.

História da música da capital baiana se mistura com famosos bairros

Salvador é uma cidade repleta de história e muita musicalidade. Claro que a união entre essas duas características só poderia resultar em grupos musicais com muita autenticidade, talento e beleza. Neste roteiro, reunimos seis bairros da capital que são berços de grandes bandas baianas, como Timbalada e Olodum, além de possuírem diversos outros atrativos. Com certeza vale a pena saber um pouco mais sobre essas bandas que são símbolos da nossa musicalidade. Vem conferir!

Timbalada – Candeal

 

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Uma publicação compartilhada por Timbalada (@timbaladaoficial)

O Candeal é um bairro vizinho dos bairros Itaigara, Brotas, Pituba, Santa Cruz e Rio Vermelho. No verão de 1991, abrigou, pela primeira vez, o som dos percussionistas da Timbalada (@timbaladaoficial). Sob o comando de Carlinhos Brown, que se tornou um dos mais importantes nomes da cultura afro-baiana, a banda, outrora pequena, tem hoje mais de 30 anos de história, com um forte impacto na indústria musical baiana. Com seu som característico do timbal, instrumento que inspirou o nome do grupo, a Timbalada, desde a sua formação, encantou multidões e espalhou seu sucesso pelo mundo. Atualmente, é uma das atrações do tradicional Carnaval de Salvador.

Conheça um pouco da história do bairro do Candeal

O bairro do Candeal se divide em duas partes: o Candeal Pequeno e o Candeal Grande. O primeiro ficou famoso por conta da Timbalada, além de projetos sociais, como a Associação Pracatum Ação Social (Pracatum). A região tem uma forte herança africana. Josefa de Santana, negra que foi escravizada e liberta da Costa do Marfim, chegou em 1769 em Salvador em busca de suas irmãs que também foram escravizadas. Josefa não encontrou ninguém, mas decidiu comprar uma região, que depois foi dividida em lotes para vender. Neste local, a raiz africana trazida pela negra foi ganhando força. A música, a comida e os costumes iriam caracterizar, nos próximos séculos, o que hoje conhecemos como Candeal.

Em 1994, na região do Candeal Pequeno, nasceu justamente a Pracatum, que até hoje atua como organização social sem fins lucrativos, com a missão de “contribuir para o Candeal ser um lugar de vidas com qualidade, por meio de iniciativas culturais e educacionais que valorizem os saberes e demandas da comunidade, e compartilhem esse modelo de transformação social com outras entidades”. Idealizada pelo artista Carlinhos Brown, a associação desenvolve ações na educação, cultura e desenvolvimento comunitário. Saiba mais neste link.

E por lá acontece…

No Candeal, o visitante pode fazer uma imersão cultural e almoçar em restaurantes locais. Acontecem por lá os festivais ”Candyall e Tal”, o ”Da Lata”, e também tem o Candyall Guetho Square, palco de muita criatividade e encontros ritmados, especialmente no verão, quando acontecem os ensaios da Timbalada. Então, nossa dica é que você vá conhecer primeiro o Pracatum e depois continue pelo bairro. Saiba mais neste link.

Dá para visitar alguns estabelecimentos. Aqui vão algumas indicações: o Restaurante Valentins (@rvalentins), que serve comida caseira com o objetivo de agradar o seu paladar com aquele sabor da comida de mãe/avó, tudo feito sempre com muito carinho e amor; o Zafferano (@zafferanosalvador), que possui um cardápio de antepastos, massas, carnes e mais, em um ambiente contemporâneo e aconchegante, com adega de vinhos; e também vale conhecer o Lopandra Resto Bar (@lopandrarestobar), para quem gosta de um ambiente mais descontraído.

Ilê Aiyê – Liberdade

 

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Uma publicação compartilhada por Ilê Aiyê (@blocoileaiye)

Foi no bairro da Liberdade que, em 1974, nasceu o Ilê Aiyê (@blocoileaiye), que é considerado o primeiro bloco afro do Brasil e firma-se como polo de luta contra o racismo. O Ilê produz sua arte com música, dança, ilustração e vestuário, e desenvolve, em paralelo, projetos de extensão pedagógica. O Bloco Afro nasceu em meio ao regime militar, resistindo a ataques e perseguições, formando uma ideologia consistente para educar com sua música.

O idealizador do bloco é Antônio Carlos dos Santos, conhecido como Vovô do Ilê, ao lado de Apolônio Lima. O bloco Ilê Aiyê tem como objetivo preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira, e hoje é considerado Patrimônio da Cultura Baiana. Em dialeto Afro, Ilê Aiyê tem um significado cheio de coerência: “A casa de todos”. Diferente de alguns blocos, o Ilê não se limita a canções de militância tocadas apenas durante o período carnavalesco. Trata-se de um projeto amplo, que defende questões éticas, de educação e transformação social, oferecendo ensino da arte, ensino fundamental e médio a jovens do bairro. Dias antes do carnaval, acontece o maior concurso de beleza e exaltação da mulher negra no Brasil: a noite da beleza negra.

Conheça um pouco da história do bairro da Liberdade

A história do bairro da Liberdade de Salvador começa em 1820, quando a antiga Estrada das Boiadas, nome de origem do bairro, era passagem dos bois que vinham do sertão e eram comercializados na Feira do Capuame (onde hoje é o atual município de Dias D’Ávila) e até exportados no porto de Salvador. No dia 2 de julho de 1823, na mesma estrada, marcharam vitoriosos os combatentes que lutaram pela Independência da Bahia, que consolidou o fim do domínio português no Brasil. Com isso, o bairro passou a ser chamado de bairro da Liberdade. Saiba mais neste link.

Foi lá também que nasceu o Muzenza (@muzenzadoreggae), outro bloco afro de grande expressão baiana. O Bloco Afro Muzenza, fundado em 1981, traz em sua história e sonoridade o encontro dos ritmos do candomblé com a música jamaicana. Há 34 anos no carnaval de rua de Salvador, o grupo – que teve sua origem no bairro da Liberdade e hoje tem sede no Pelourinho – teve diversas canções transformadas em hits por outros cantores baianos, entre elas: “Swing da Cor” e “Brilho e Beleza”, eternizadas nas vozes de Daniela Mercury e Gal Costa, respectivamente.

E por lá acontece…

Além de conhecer a sede do Ilê, no Curuzu, conheça também a Praça da Liberdade, que é destinada ao lazer da comunidade de Gengibirra de Baixo; o Shopping Bairro Liberdade Salvador; a Ladeira do Curuzu, uma das mais famosas da cidade, onde está localizada a sede da Associação Cultural Ilê Aiyê; e a Feira do Japão, que é outro ponto bastante conhecido. Somente na Rua do Curuzu, existem dezesseis terreiros de candomblé, dentre eles, o Ilê Axé Jitolu, internacionalmente conhecido, fundado pela Mãe Hilda Jitolu. Conheça essas e outras experiências no portal do movimento Salvador Capital Afro neste link.

Harmonia do Samba – São Caetano

Localizado entre a Fazenda Grande do Retiro e o Lobato, o bairro de São Caetano é um dos mais populosos e carentes de Salvador, e está subdividido em várias outras localidades, como Capelinha, Boa Vista e Fonte da Bica. Especificamente em Capelinha, em dezembro de 1993, Roque Cezar decidiu montar um grupo para tocar músicas que misturam samba raiz com samba-reggae e ritmos regionais da Bahia, unindo o pandeiro e o cavaquinho a elementos de percussão e sopro. Junto com o maestro Bimba e outros amigos músicos, eles batizaram o grupo como Harmonia do Samba e passaram a se apresentar em festividades.

Em 1998, buscando transformar a paixão pela música em profissão, eles convidaram Xanddy, que era vocalista do grupo Gente da Gente, para assumir os vocais da banda, e passaram a apostar em um repertório autoral. Em 1999, foi lançado o primeiro álbum, de onde saíram sucessos como “Vem Neném”, “Agachadinho” e “Elevador”. O grupo completa 30 anos em 2023, mas Xanddy anunciou sua saída e o fim da banda em 2022.

Conheça um pouco da história do bairro de São Caetano

Grande parte do bairro de Capelinha foi formado na falha geológica da cidade, que tem início no Elevador Lacerda e perpassa o bairro do Lobato. Até meados do século XX, existia o Dique do Ladrão, que fornecia água para as docas da Bahia. Com a desativação do dique, foi aberto um loteamento que deu início ao povoamento do local. A origem do nome do bairro está associada a uma pequena igreja que já existia no local desde o tempo em que a região era apenas fazenda.

E por lá acontece…

Hoje, no bairro de Capelinha, funcionam escolas, igrejas, casas de umbanda, centros espíritas e terreiros de candomblé. O comércio é diversificado. Há lojas, padarias, mercearias, funerárias, boutique… No local, você também encontra a sorveteria que vende um dos picolés mais famosos de Salvador e que já está marcado na história da Bahia: o picolé Capelinha. Difícil é visitar as praias da capital, principalmente no verão, e não escutar: “Olhe o Capeliiiiiiinha, sabor da fruta!”. Saiba mais neste link.

Ara ketu – Periperi

Foi em Periperi que surgiu a banda Ara Ketu (@araketu), grupo musical fundado em 8 de março de 1980. A banda tem sua essência afro, com muita luta e resistência ao longo de todos esses anos. Foi campeã do carnaval de Salvador nos anos de 1981, 1982 e 1983. Ara Ketu foi idealizado por Vera Lacerda, professora de história e mestra em filosofia, e seu primo Augusto César (falecido em agosto de 2016), guru espiritual de diversos artistas do Brasil.

O bloco Afro Ara Ketu desenvolvia também um trabalho social voltado para a sua comunidade. Suas músicas foram interpretadas por outros artistas como Banda Reflexu’s e Margareth Menezes. Por exemplo: a música “Uma história de Ifá” foi gravada no primeiro LP do Ara Ketu, em 1987, e lançada no CD de Margareth Menezes do ano seguinte, tendo grande sucesso no Brasil e no exterior. As praias da região de Periperi são belíssimas e vale a pena conhecer.

Conheça um pouco da história do bairro de Periperi

O bairro de Periperi está localizado entre os bairros de Coutos e Praia Grande, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Seu nome é de origem indígena e está associado à multiplicação da planta junco em planície alagada. É neste bairro que se desenrola o livro “Os velhos marinheiros” (1961), de Jorge Amado. Antes da chegada dos portugueses no século XVI, índios tupinambás habitavam a região. Durante o século XIX, o bairro era ocupado por fazendas. Durante o século XX, Periperi foi conhecido por ser uma importante instância para veraneio e moradia para aposentados, que se recolhiam para descansar à beira do mar, após anos de serviço. Com a implantação de complexos indutriais e da avenida Afrânio Peixoto (1971), a população aumentou.

E por lá acontece…

A famosa Praça da Revolução também faz parte do bairro e é uma das maiores praças de Salvador. Nos finais de semana, o espaço é ocupadopor jovens que curtem com muito som, dança, bate-papo e paquera. Lá, sempre ocorrem eventos culturais, e o bairro é palco da micareta Perifolia.

Olodum – Pelourinho

Foi no Pelourinho que nasceu o Olodum (@olodum_oficial), um dos blocos mais famosos da capital. O grupo surgiu de uma brincadeira carnavalesca em 25 de abril de 1979, entre os amigos Carlos Alberto Conceição, Geraldo Miranda, José Luiz Souza Máximo, José Carlos Conceição, Antônio Jorge Souza Almeida, Edson Santos da Cruz e Francisco Carlos Souza Almeida. O que era para ser uma opção de lazer momentânea para os moradores do antigo Maciel-Pelourinho ganhou todo o mundo, se transformou em uma das mais importantes instituições da cultura negra afro-brasileira, o Bloco Afro Olodum.

O grupo ganhou sonoridades diferentes, transformou a musicalidade africana calcada na percussão e originou novos ritmos, como o Ijexá, Samba, Alujá, Reggae, Forró e se transformou numa expressão viva do samba-reggae, ritmo idealizado por Neguinho do Samba. O Olodum se consagrou como um dos grupos musicais brasileiros de maior prestígio internacional, já tendo se apresentado em mais de trinta países, em todos os continentes. Já encantou artistas como Michael Jackson, Linton Kesey Johnson, Paul Simon, Julian Marley, Gal Costa, Caetano Veloso, Ivete, Gil, Tim Maia, Jorge Ben, Elba Ramalho, Daniela Mercury e Carlinhos Brown. Saiba mais neste link.

Conheça um pouco da história do Pelourinho

A história do bairro está intimamente ligada à história da própria cidade. Salvador foi fundada em 1549 por Tomé de Sousa, primeiro governador-geral do Brasil, que escolheu o lugar onde se localiza o Pelourinho por sua posição estratégica – no alto, próximo ao porto e com uma barreira natural constituída por uma elevação abrupta do terreno, verdadeira muralha de até noventa metros de altura por quinze quilômetros de extensão, facilitando a defesa da cidade. O bairro é o mais antigo de Salvador, e pelas ruas é possível encontrar edifícios com séculos de história, igrejas que ajudaram a formar a religiosidade do povo brasileiro e alguns dos melhores restaurantes de toda a Bahia.

E por lá acontece…

No Pelourinho, o que não falta é lugar para conhecer. O local é um dos pontos turísticos mais importantes da cidade, cheio de lugares instagramáveis, incluindo a própria sede do bloco Olodum, que está disponível para visitação. Quando for visitar, não deixe de conhecer os largos, como o Largo Terreiro de Jesus e o Largo do Pelourinho, além das igrejas históricas, museus, como a Casa do Carnaval e o Museu da Gastronomia Baiana. No local, também fica o famoso Mercado Modelo. Então, vá sem pressa e passe o dia para conhecer cada pedacinho.

Bloco Mudança do Garcia – Garcia

Foi o molejo do sambista Clementino Rodrigues, mais conhecido como Riachão (1921 – 2020), que fez o nome do bairro ganhar o mundo pelas suas composições. Berço do samba, o bairro ainda é a sede do tradicional bloco carnavalesco “Mudança do Garcia”. Historicamente, o bloco surgiu em 1926, com o “Arranca-Tocos”, criado por ex-policiais. Virou “Faxina do Garcia” e, depois, já na década de 50, por sugestão do então vereador Herbert de Castro, ganhou seu nome definitivo. Saiba mais neste link.

Mas a história do nome do tradicional bloco tem outra versão: contam que o pai do sambista Riachão teria expulsado uma prostituta do bairro. A mudança da mulher virou ”Mudança do Garcia”, pois foi feita com um misto de samba e protesto. A tradição, até hoje, continua a mesma: um desfile que mistura samba, alegria, representatividade e protestos sociais.

Conheça um pouco da história do bairro do Garcia

O Garcia é um dos mais antigos e tradicionais bairros de Salvador e está localizado na região do centro da cidade. É uma das regiões mais altas da capital, estando mais de 80 metros acima do nível do mar, e um dos bairros mais efervescentes da cidade em termos de cultura. Além do Colégio Dois de Julho, lá se encontram outros dois espaços educacionais tradicionais da cidade: o Colégio Antônio Vieira e o Sacramentinas – ambos fundados por missões católicas. O bairro tem forte ligação religiosa. Inclusive, abriga a sede da Arquidiocese de Salvador e a Capela Sagrada Família, antigo colégio das Dorotéias. Saiba mais neste link.

E por lá acontece…

O Garcia é conhecido reduto do partido alto em Salvador e sempre acontecem boas rodas de samba no bar e restaurante Aconchego da Zuzu e na Casa de Pedra. Também vale conhecer o Varanda Burguer, para quem curte uma guloseima.

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