O Samba da Bahia

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As Ganhadeiras de Itapuã devem ser responsáveis por um dos momentos mais emocionantes da noite. Foto Ricardo Prado.

O melhor do batuque baiano

Por Fernanda Slama

O samba é resultante de estruturas musicais europeias e africanas, mas foi com os símbolos da cultura negra brasileira que o samba se alastrou pelo território nacional, tornando-se uma das principais manifestações culturais populares do Brasil. Tal é a sua importância, que no dia 2 de dezembro é celebrado o Dia Nacional do Samba, em homenagem a este que é um dos ritmos mais tradicionais do Brasil.

Na Bahia, em especial, alguns dos nomes que levaram o samba baiano a destaque no cenário nacional foram Riachão, Gordurinha, Batatinha, Tião Motorista, Walmir Lima, Panela, Nelson Rufino, Edil Pacheco, Roque Ferreira e Ederaldo Gentil. Da nobreza do samba às suas vertentes contemporâneas, o gênero musical foi a origem dos três principais ritmos tocados nos nossos carnavais: o axé, o pagode baiano e o samba-reggae.

Sua origem foi com o samba de roda, o samba de terreiro e batuque de umbigada, passando pelo partido-alto, bossa nova e samba-duro junino, até chegar ao samba misturado com outras vertentes do samba-choro, samba-funk, samba-rock.

Faremos aqui um passeio pelo universo do samba baiano, entre o clássico e o novo. Também daremos dicas de locais para curtir um bom batuque em Salvador, assim que a quarentena acabar.

O “Malandro” baiano

Clementino Rodrigues, carinhosamente conhecido como o sambista Riachão, seguiu o estilo do samba irreverente, com composições bem-humoradas, onde falava inspirado no que acontecia no dia-a-dia.

Sempre de boina, camisa social, calça, toalha no pescoço e muitos anéis, teve suas músicas regravadas por Jackson do Pandeiro, Cássia Eller, Gil e Caetano.

O mestre infelizmente nos deixou na madrugada de segunda-feira, dia 30 de março de 2020, aos 98 anos. O sambista Riachão faleceu em casa, de causas naturais, junto de sua família. Leia sobre o último e genial “Malandro” baiano: Riachão neste link.

A elegância de Batatinha

Considerado um dos bambas nacionais, Oscar da Penha, o Batatinha (1924-1997), ficou conhecido por seu jeito melancólico de compor, mas sem perder o bom humor. Formou o “Quinteto Sagrado do Samba e da Boa Terra”, junto com Riachão, Panela, Edil Pacheco e Ederaldo Gentil. Grandes nomes da música brasileira já cantaram suas canções como Maria Bethânia, Paulinho da Viola, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

O circuito da folia no Centro Histórico, durante o Carnaval de Salvador, leva o nome Circuito Batatinha. Lá não passam trios elétricos e é conhecido justamente como “carnaval das antigas”, priorizando o samba e fanfarras.

Uma homenagem a três grandes sambistas baianos

https://www.youtube.com/playlist?list=PLdhzUkqzIbV6daXQhc1jXhnKqLeUZ2vOq

Um registro em CD do grupo Bambas de Sampa traz músicas inéditas de Guiga de Ogum, Edil Pacheco e Riachão. O idealizador do projeto independente é o músico Paulinho Timor, nascido em São Paulo, mas desde cedo um frequentador das rodas da Bahia onde nasceu o samba e produziu grandes sambistas.

O CD intitulado “Bambas de Sampa – Todo mundo tem que falar” tem 10 faixas. O registro fonográfico remete ao samba de roda, com ressalto à batucada e ao instrumento de corda, mais ponteado, que é uma característica do gênero na Bahia. Vale ler a matéria completa neste link.

Chocolate da Bahia

Conhecido por seus versos maliciosos, Chocolate da Bahia ficou conhecido nas rodas de samba e ijexá armadas no Mercado Modelo, ponto turístico e musical de Salvador naquela época. Fez seu primeiro álbum autoral em 1977, Barraca do Chocolate. Nele, tinham textos do escritor Jorge Amado (1912 – 2001) e do compositor Dorival Caymmi (1914 – 2008), publicados na contracapa do LP original.

A potência feminina

Mariene de Castro

Mostrando que a Bahia continua sendo referência de samba, dona de uma voz poderosa, a cantora e atriz baiana Mariene de Castro, ficou conhecida por muitos ao encantar o público no encerramento dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Mas, para os soteropolitanos, Mariene já soltava a voz como integrante do grupo Timbalada, de Carlinhos Brown e, em 1996, teve a oportunidade de realizar seu primeiro show solo, no Pelourinho. De lá para cá, fez de cara uma turnê por 20 cidades da França, já ganhou prêmios e hoje é reconhecida pela força de sua interpretação e a singularidade de seu timbre vocal. Ficamos aqui com seu primeiro trabalho, Abre Caminho.

As Ganhadeiras de Itapuã

Ganhadeiras de Itapuã. Lagoa de Abaeté, Salvador, Bahia. Foto: Amanda Oliveira.

E por falar nas Olimpíadas de 2016, as Ganhadeiras de Itapuã homenagearam mulheres rendeiras, sendo um dos grandes destaques na festa de encerramento dos jogos. O grupo cultural formado em 2004 mantém vivos os costumes antigos do bairro e revive a cultura de Itapuã. Daquelas pérolas da Bahia que você tem que conhecer.

O grupo é formado por antigas lavadeiras da Lagoa do Abaeté onde, nos intervalos do trabalho, faziam batuques, sambas de roda, cantorias e contavam histórias. O repertório do grupo começou basicamente por memória afetiva.

E essas mulheres são mesmo “retadas”. Com o tema “Viradouro de alma lavada”, a Vice-campeã do Carnaval 2019 do Rio, a Unidos do Viradouro, tem as Ganhadeiras de Itapuã como enredo para o carnaval 2020. A Escola de Samba promete mostrar para o grande público essa que é uma das mais comoventes manifestações culturais da Bahia.
Saiba mais neste link

As Ganhadeiras de Itapuã

Outro trabalho muito bom é o de Juliana Ribeiro, que faz uma vasta pesquisa que traz a inusitada harmonia entre os ritmos jongo, semba angolano, batuque, MPB, lundu, ijexá, maxixe e o samba. Já dividiu palco com grandes nomes da MPB como Riachão, Nelson Rufino, Paula Lima, Sandra de Sá, Edil Pacheco, Roberto Mendes, Tereza Cristina, Leci Brandão, Jota Veloso, Dudú Nobre, entre outros.

Gal do beco é Carioca de nascença e baiana de coração, e conquistou seu espaço no público baiano. Em 2000 ganhou o título de cidadã soteropolitana não só pelo tempo que morou aqui, mas também pela influência na cultura do samba baiano. Maria das Graças Silva, 65, veio morar em Salvador, mais especificamente em Itapuã, em 79. Teve um bar de nome Beco da Gal, conhecido por seus quitutes (principalmente a rabada) e as rodas de samba de altíssima qualidade musical. Gal já fez shows com Nelson Rufino, Juliana Ribeiro, Waldir Lima e, hoje, os novos sambistas a tomam por madrinha.

As duas, tanto Juliana quanto Gal, já fizeram grandes encontros como os proporcionados pelo Grupo Botequim, querido pelo público jovem de Salvador, ávido por boa música. Aproveitando a deixa, bora listar vários locais e eventos legais para ouvir o bom e velho samba.

Para curtir assim que a fase de isolamento social terminar

O Grupo Botequim é um excelente exemplo dessa nova geração. Eles fazem uma roda de samba no Santo Antônio Além do Carmo, normalmente no pátio da Igreja do Santo Antônio Além do Carmo. Já receberam como convidados Firmino de Itapuã, Gal do Beco, Tambor Mineiro e Cota Pagodeiro, além de muitos outros. Vale demais. @grupobotequim

Também no Santo Antônio, a Casa Ciranda tem o evento “Sambalá no Quintal – Rodas de Samba, alegria e amor”. Todo mês, apresentam ótimas rodas de samba em um ambiente acolhedor e com uma linda vista para a Baía de Todos os Santos. Entre outras atrações, já passou por lá o grupo “Samba das Cumades”, um samba com um caráter extremamente transformador, que traz o protagonismo feminino, além da valorização da produção baiana e autoral. Instagram: @casaciranda Contato: contatocasaciranda@gmail.com ou (71) 98188-9697

A Casa da Música em Itapuã fomenta a produção cultural e o acesso gratuito à arte a partir de aulas de música, exposições, saraus e bate-papos. Quem volta e meia se apresenta lá são as Ganhadeiras de Itapuã, além de uma vasta programação musical. A Casa da Música fica no Alto do Abaeté, S/N – Itapuã, Salvador – BA, 41610-510. Telefone: (71) 3116-1512

A Caminhada do Samba acontece todos os anos sempre um domingo antes do Dia do Samba. Reúne os maiores e mais tradicionais blocos de samba do carnaval baiano: Alerta Geral (Miudinho), Alvorada (Bambeia), Pagode Total (É o Tchan), Amor & Paixão (Fora da Mídia), Reduto do Samba (Katulê), Vem Sambar (Grupo Mocidade), Samba Popular (A Grande Família), Proibido Proibir (Fuzukda e participação especial Terra Samba) e Q Felicidade (Patrulha do Samba). Saiba mais neste link.

Idealizado pelo maestro Augusto Conceição e pelo percussionista Lomanto Oliveira, o Samba do Vai Kem Ké propõe a preservação e renovação do legítimo samba da Bahia, valorizando as tradições do samba duro e de roda, trazendo no repertório os sambas de caboclo e as cantigas de domínio público. Eles estão sempre fazendo um agito na Federação e nas Praças do Pelourinho, fiquem ligados nas redes deles para ficar por dentro da agenda.

Roda de samba do Bloco Pagode Total acontece todos os domingos, no Largo da Saúde em Nazaré. Por lá, já passaram os grupos Catadinho do samba, Samba negro lindo, Samba Mocidade, entre outros. Além disso, na folia de 2020, estarão na quinta de Carnaval na avenida. @blocopagodetotal . (71) 3161 – 3512

Na Feira de São Joaquim, acontece o tradicional “Samba na feira”, aos domingos, a partir das 10h. Se apresentam por lá a banda Sanfeira, Grupo Bambeia, Samba de Cozinha, Pedaço de cada um, Fora da Mídia, Samba Trator, Samba de Caldeira e já teve também a participação de Gal do Beco. Píer da Feira de São Joaquim (Calçada, Salvador,Bahia). Quando: domingo, nove de junho de 2019, às 11h

No bairro do Rio Vermelho, três casas se destacam. A Varanda do Sesi Rio Vermelho tem o Projeto ‘Segundas do Chorinho’. Prepare-se para grandes apresentações dos clássicos do choro e da MPB. (Varanda do Sesi Rio Vermelho, às segundas, a partir das 19h). Já na Casa da Mãe, em frente à Casa de Iemanjá, na orla, a Roda de Choro acontece às quintas, também com excelentes músicos. No final do ano de 2019, um dos grandes clássicos do Pelourinho ganhou novo endereço. O Cantina da Lua, agora comandado pelo Filho Clarindo, abriu um bar no Rio Vermelho. Como já era de se esperar, já vem sendo frequentado pelos amantes de samba da cidade. Fica ali na Praça Brg. Faria Rocha – Rio Vermelho.

Para ficar de olho

Aos 98 anos, Clementino Rodrigues, conhecido como Riachão, é uma das principais referências do samba. Ele lançará “Se Deus quiser eu vou chegar aos 100” com faixas inéditas e autorais, além de um site com o acervo de sua trajetória musical.

Por Fernanda Slama
Coordenadora de conteúdo