Histórias dos bairros de Salvador: Curuzu

R. do Curuzu, 228 - Curuzu, Salvador - BA, 40366-110
História e Cultura
Ilê Aiyê - Foto - Divulgação - Salvador Bahia
Jéssica dos Santos. Ilê Aiyê. Noite da Beleza Negra. Foto: André Frutuôso
Ilê Aiyê na Liberdade. Foto: Assessoria
Campanha do filme Follow the Music. Edilene Alves, Deusa do Ébano (2009), do Bloco Afro Ilê Aiyê. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.jpg
Jéssica dos Santos. Foto: André Frutuôso
Ilê Aiyê. Noite da Beleza Negra. Jéssica dos Santos. Foto: André Frutuôso

A rua que fez a história do povo negro de Salvador e virou bairro

Patrimônio cultural de Salvador, bairro onde nasceu o Ilê Aiyê tem reconhecimento mundial

Campanha do filme Follow the Music. Edilene Alves, Deusa do Ébano (2009), do Bloco Afro Ilê Aiyê. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.jpg

Cantado em verso e prosa, o bairro do Curuzu é uma das pérolas de identidade do povo de Salvador. Mais do que um bairro, ele é o reflexo da construção do empoderamento dos negros da capital baiana nas últimas décadas. A presença da sede do bloco afro Ilê Aiyê, no imóvel número 228 da Rua do Curuzu, deu projeção internacional ao bairro, que tem a famosa Ladeira do Curuzu (aquela da música “O Mais Belo dos Belos”) como sua marca registrada.

Por muitos anos, foi conhecido com uma rua do bairro da Liberdade, mas, desde 2017, foi incluído na lista de bairros oficiais de Salvador pela força e representatividade que tem. A presença do primeiro bloco afro do Brasil na rua fez a região se consolidar com empreendimentos voltados para a cultura afro.

Recentemente, os 1,1 km de extensão da rua direta do bairro passaram por requalificação completa desde a Avenida General San Martin à Estrada da Liberdade. Foi feita a remodelação urbanística e o bairro ganhou as cores amarelo e vermelho – as mesmas da fachada da Senzala do Barro Preto, sede do bloco, que tornou a rua tão famosa mundialmente, e da fantasia carnavalesca da agremiação, nascida em 1975.

Mas o Curuzu vai além do bloco. Além do patrimônio cultural, preserva ainda dois dos mais importantes terreiros de candomblé do Brasil. Lá, por exemplo, há o Terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, que foi o primeiro a ser tombado com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador. O Vodun Zô é um dos únicos da nação Jeje Savalu que mantém os ritos originais da linhagem, assim como o dialeto africano Ewe-Fon preservado nas expressões e cânticos da comunidade. Conheça mais sobre o Curuzu, a rua que fez a história do povo negro de Salvador e virou bairro.

Que beleza de ver

 

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Se você quer visitar Salvador ou já é morador da cidade, precisa, pelo menos uma vez na vida, participar da Noite da Beleza Negra do bloco Ilê Aiyê, na Senzala do Barro Preto, sede do bloco no bairro do Curuzu. Desde 1975, às vésperas do Carnaval, a comunidade se reúne para escolher a Deusa do Ébano – a mulher que representará o bloco nos desfiles carnavalescos e ao longo do ano.

É uma das noites mais lindas que você verá na sua vida. Não é um concurso de beleza no sentido clássico. É muito mais do que isso. É um momento para celebração das raízes ancestrais africanas do nosso povo, um convite às reflexões da formação da nossa identidade e uma reverência às mulheres negras.

A beleza negra é celebrada com a presença de jovens mulheres negras que se transformam em deusas na tradicional noite. A sede do bloco fica lotada – sempre com ingressos esgotados – e há apresentações e presenças de artistas famosos a exemplo de Gilberto Gil e Daniela Mercury. Todo ano, cerca de 20 finalistas disputam o título no concurso que tem, anualmente, mais de 200 inscritas de diversas cidades da Bahia e até mesmo do exterior.

Um dia especial

 

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O sábado de Carnaval é um dos momentos mais especiais do ano no bairro do Curuzu. É o dia em que acontece a tradicional ”Saída do Ilê” da sede do bloco Ilê Aiyê para desfilar no circuito oficial da folia no Campo Grande. O momento reúne artistas, políticos, turistas e a comunidade do Curuzu, que fica nas janelas de casa para ver ”o Ilê passar” pela rua do bairro.

Para se ter uma ideia da visibilidade dessa noite, grandes estrelas mundiais já participaram desse momento, a exemplo da top model internacional inglesa Naomi Campbell. Os associados do bloco carnavalesco – que é exclusivo para o desfile de pessoas negras – têm esta noite de sábado como a mais especial do Carnaval.

https://www.salvadordabahia.com/experiencias/ile-aiye/

Antes da saída da banda Aiyê da sede do bloco, acontece ato religioso comandado pelo Terreiro Ilê Axé Jitolu, que pede aos orixás bons caminhos para a passagem do bloco na folia. Neste dia, acontece o grande desfile da Deusa do Ébano à frente do bloco, acompanhada das duas princesas da agremiação que vai reinar na folia, mas, antes, se apresenta para o bairro e pede as bênçãos da ancestralidade. O bloco foi fundado em 1975 e abriu as portas para que outros bairros de Salvador criassem, sem sequência, outros blocos carnavalescos com o protagonismo negro.

Patrimônio religioso

 

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Dois terreiros de candomblé ajudam a escrever a história do Curuzu. Fundado em 1952, o Ilê Axé Jitolu foi comandado até 2009 por Mãe Hilda dos Santos, Mãe Hilda de Jitolu. Mãe Hilda foi, até seu falecimento, uma das grandes incentivadoras e líder espiritual do bloco Ilê Aiyê, que nasceu entre os filhos e filhas de santo do seu terreiro. Seu filho, Antônio Carlos do Santos, o Vovô do Ilê, é o atual presidente do bloco.

O terreiro, que é da nação jeje – nagô , é comandado por Mãe Hildelice Benta dos Santos, que é filha biológica de Mãe Hilda. Todo mês de janeiro, acontece a grande festa do terreiro em homenagem a Oxalá. Outro momento importante do ano para o terreiro é a festa para Obaluaê, santo protetor do terreiro, que acontece em agosto.

O terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, também localizado no bairro do Curuzu, é, de acordo com a Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro Ameríndia (AFA), o único da nação Jêje Savalu que mantém os ritos originais da linhagem, assim como o dialeto africano Ewe-Fon, preservado nas expressões e cânticos da comunidade.

 

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Foi, em 2016, o primeiro a ser tombado com base na Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Salvador (8.550/2014). O terreiro, que é regido por Xangô, ocupa uma área de 2.400 m², o que representa a maior área verde do Curuzu. No terreiro, há uma fotografia feita pelo fotógrafo francês Pierre Verger (1902 – 1996) que foi doada ao terreiro em 2018. A obra que está lá é a fotografia Elégùn de Oxumaré feita em Savé, na África.