Boa comida, belezas naturais ou esportes aquáticos. Em Itapuã, do que você sente mais saudade?
Acordar cedo para ver os pescadores na puxada de rede, checar a tábua de maré para curtir as piscinas naturais que se formam na maré seca e ainda aproveitar para praticar SUP ou Windsurf. Coqueiros na praia, cheiro salgado de maresia e, para completar o cenário, o Farol de Itapuã, cartão postal de Salvador. Essa simplicidade rotineira e o contato com a natureza talvez sejam as sensações mais saudosas que temos de Itapuã.
Eternizada nos versos de Dorival Caymmi, Vinícius de Moraes e Toquinho, Itapuã tem essa “presença” artística até hoje. Um dos bairros mais musicais de Salvador também é sede do Bloco Afro Malê Debalê, Saraus e das Ganhadeiras de Itapuã, além de ter um dos acarajés mais icônicos da cidade, o Acarajé da Cira.
Historicamente, a identidade de Itapuã foi moldada a partir dos costumes dos pescadores, ganhadeiras, cozinheiras, capoeiristas, cantores e compositores que criaram um conjunto de expressões culturais dos mais ricos do país.
Moradores e visitantes estão com saudade de chamar até as pedras pelo nome. Pois, acredite: tem a Itapuã do Meio e a Itapuã Mirim, Pedra da Piraboca, Pedra do Sal, Pedra do Unhão, Pedra Redonda, Pedra da Beraba, Pedra do Diogo Dias também conhecida como “Pedra do Goodyear” . Isso lembra até a famosa história da praia da placa da Ford que acabou virando Placaford, aquela ali localizada entre a Praia de Itapuã e a Praia de Piatã.
Se chamar pedra pelo nome é para os “íntimos do bairro”, então pegaremos carona nesta nostalgia e te levaremos para um passeio daqueles, mesmo que através de nossas lembranças. Definitivamente, sentimos uma saudade chamada Itapuã.
Lembra como é bom passar a tarde em Itapuã? Dê o play!
Conheça um pouco da história do bairro
Em Tupi Guarani, Itapuã significa “pedra erguida”, “pedra de ponta” ou “ponta de pedra” e não “pedra que ronca”, como se costuma dizer. Abriga desde o final do século XIX o farol que leva o mesmo nome do bairro. A cerca de 30 quilômetros do centro de Salvador, a antiga vila de pescadores, de difícil acesso, é hoje uma das praias mais famosas e movimentadas da cidade.
No século XVII, o bairro era uma importante armação baleeira, onde a pesca desses imensos mamíferos era fundamental para extração do óleo, responsável pela iluminação do centro urbano. Hoje, o cuidado com o animal é tamanho que existem passeios que possibilitam observar baleias jubartes em Salvador, sendo o bairro de Itapuã justamente um dos ótimos pontos. Entre os meses de julho e novembro é o período de reprodução das jubartes, que trocam as águas geladas da Antártida pelas temperaturas quentes do litoral baiano.
Conhecendo um pouco da história, dá uma vontade danada de viver momentos inesquecíveis nesse bairro. E você sabe como ele virou moda nos anos 1960? Queridinha das praias da cidade nesta época, Itapuã foi cenário do filme “Dona Flor” e também a casa do dramaturgo/poeta/letrista Vinicius de Moraes e do compositor Dorival Caymmi. O dia a dia encantador e com clima de cidade do interior foram alguns dos ingredientes para o famoso hino “Tarde em Itapuã”, que Vinícius compôs, com seu parceiro Toquinho. Vinicius de Moraes (1913-1980) morou em Itapuã no início dos anos 70, com sua amada, a atriz baiana Gessy Gesse. Nesta casa, hoje, tem um memorial do artista e um restaurante excelente chamado Casa di Vina.
Patrimônio imaterial
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Itapuã é um dos bairros de maior tradição artístico-cultural de Salvador, com dezenas de bens e patrimônios imateriais. Segundo o relatório “A Capoeira em Salvador”, da Fundação Gregório de Mattos, o território que abriga Itapuã é o segundo da região soteropolitana com maior presença de grupos de capoeira e possui um total de cinco museus.
A presença de manifestações de religiões afro-brasileiras é outro ponto forte da região, que acolhe nada menos do que 101 terreiros de Candomblé. A cultura afro-brasileira está presente também na culinária, já que Itapuã é um dos principais locais para os amantes de acarajé, quitute típico de Salvador. Segundo a Associação Nacional das Baianas de Acarajé, a região de Piatã e Itapuã possui em média 238 tabuleiros de baianas de acarajé, entre elas, algumas das mais famosas da cidade, como Cira.
Além desses grupos e manifestações culturais, a pesca é uma das atividades mais tradicionais e economicamente importantes da região. A colônia de pescadores de Itapuã (Z6), fundada em 1956, reúne cerca de 1,2 mil pescadores e 32 barcos grandes. Na verdade, o bairro de Itapuã, até a década de 1950, era uma vila de pescadores, situada a 25km do até então centro de Salvador. Até os dias de hoje, os pescadores de Itapuã se reúnem na praia de Vila Velha para, juntos, puxarem centenas de peixes em suas redes de pesca.
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Farol de Itapuã, cartão postal de Salvador
Em 1823, o Farol de Itapuã foi inaugurado. Instalado na Pedra Piraboca, o farol tem 21 metros de altura, apresenta a forma de uma torre, toda em ferro fundido, para orientar os navegantes na região de mar calmo, mas repleto de rochedos. Junto com os bancos de areia desta região, eles causaram diversos naufrágios até que o farol foi erguido para alertar sobre estes perigos.
Desde 1950, ele tem a cor atual: branco e vermelho. Além de útil para a navegação, ele também virou cenário. Farol de Itapuã pode alcançar com sua luz branca aproximadamente 30 quilômetros (15 milhas náuticas).
Para comer
Não tem como pisar neste chão, sentir o cheiro de dendê e não querer comer um acarajé, especialidade gastronômica das culinárias africana e afro-brasileira amada pelos baianos e turistas. E Itapuã é um dos bairros símbolos do quitute. Um dos acarajés mais deliciosos – e, por causa disso, um dos mais famosos – de Salvador, o Acarajé da Cira é referência. O tradicional bolinho de feijão-fradinho frito no dendê, recheado com vatapá e salada de tomate e cebola de Dona Jaciara de Jesus Santos agrada paladares de norte a sul do país, se tornando ponto turístico da cidade.
Cira em Itapuã – conhecido como Largo da Cira, fica em frente ao Posto 12 – R. Aristídes Milton, s/nº – Itapuã, Salvador – BA, 41610-160
Conheça também o Bar e Restaurante do Mamão. Não só pela comida gostosa, mas também por seu Jorge, o dono, colecionador de vinis, que tem mais de 3 mil discos no estabelecimento. Pequeno, mas muito aconchegante, com mesas embaixo das árvores, você almoça ao som de Moraes Moreira, Chico Buarque, Gal Costa, Gerônimo, Geraldo Azevedo, Baden Powell e muitos outros saídos direto da vitrola.
R. Min. Carlos Coqueijo Costa, 103 – Itapuã, Salvador – BA, 41620-810. Funcionamento: de quarta a domingo de 12h às 23h. Telefone: (71) 99139-1064
Outras opções legais são o Parrilla do Farol e o Restaurante e Espaço de Vivências Pedra Puã.
Há, também, os maravilhosos Casa Divina e Mistura. Estes dois estão no Salvador Pede em Casa, e você pode pedir que chega tudo bem saboroso no conforto do seu lar.
Musicalidade por todo lado
Um pouco distante da orla, indo um pouco mais para dentro do bairro, se localiza a Lagoa do Abaeté, um símbolo da cidade. Ao redor da lagoa, existe o Parque Metropolitano Lagoas e Dunas do Abaeté, inaugurado em 1993. Nas imediações, é onde fica a Casa da Música, que promove saraus, apresentações de dança, teatro, oficinas, exposições temporárias e bate papos musicados.
É para Itapuã que vem um importante e premiado grupo regional: As Ganhadeiras de Itapuã. O grupo conta com a participação de músicos que tocam instrumentos de corda e percussão e quase 20 senhoras Cantadeiras, Ganhadeiras e Lavadeiras. Com suas vozes de tom muito peculiar, encantam os ouvintes a cada apresentação realizada. O objetivo é resgatar, preservar e fortalecer as raízes e tradições histórico-culturais do bairro de Itapuã.
É neste bairro que se encontra a sede do Malê Debalê, bloco afro de carnaval, fundado em 1979 por um grupo de moradores de Itapuã, que tinham o desejo de que seu bairro pudesse participar do carnaval de Salvador. Hoje, o bloco tem cerca de quatro mil integrantes.
Musicalmente, o bairro possui diversos movimentos, grupos e expressões rítmicas. Algumas atrações que compõem o cenário musical de Itapuã são o Afoxé Korin Nagô, o Coletivo feminino de samba Filhas do Mar, a Tribuna Livre do Samba, a Roda de Choro de Itapuã, o Cortejo da Baleia de Itapuã, a Escola de Samba Unidos de Itapuã, o Bando Anunciador da Lavagem de Itapuã, o Movimento Hip Hop, entre outros.
Outra expressão musical relevante é o Sarau de Itapuã, que reúne amantes da literatura e da poesia há mais de 20 anos.
Um excelente momento de reunião de diversos destes grupos é durante a festa popular secular de lavagem da escadaria da igreja da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, a Lavagem de Itapuã, tradição que, em 2020, completou 115 anos. Saiba mais neste link.
Centro Cultural Casa da Música – Endereço: Alto do Abaeté, S/N – Itapuã, Salvador – BA, 41610-510. Telefone: (71) 3116-1511
Praia, esporte e lazer
O mar calmo de ondas médias da Praia de Itapuã é banhado pelo oceano Atlântico com água esmeralda. Em determinados pontos da água, existem grandes pedras que formam piscinas naturais. A Rua da Música – também conhecida como Rua K – era o local onde, nos anos 70 e 80, artistas, músicos e esportistas de Salvador frequentavam. Até hoje, é o ponto de encontro para esportistas em geral e para quem quer praticar Windsurf e S.U.P. Saiba mais sobre a cena esportiva do bairro neste link.
Se não bastasse, ainda é excelente para quem tem crianças pequenas, que podem ficar brincando por horas nas piscinas naturais que se formam. E se você busca conforto à beira mar, nossa sugestão é ir ao Lôro Pedra do Sal, que com sua estrutura de praia excelente, é um verdadeiro oásis pé na areia. E olha que legal! Eles estão fazendo entrega de gastronomia baiana. Saiba mais neste link.
Esculturas e bustos são alguns dos pontos turísticos
Vinicius de Moraes
Em homenagem ao artista, existe a Praça Vinicius de Moraes, com o Monumento ao Poeta, e a Praia de Itapuã, ao fundo. Este Monumento é de autoria do artista plástico baiano Juarez Paraíso e contou com a colaboração de Márcia Magno, Renato Viana e Paula Magno. A Praça foi inaugurada em 2003, ano em que ele faria 90 anos. Está localizada perto do Farol de Itapuã. A escultura de Vinícius, em bronze, tem tamanho natural. Uma cadeira vazia, ao lado, convida os visitantes a tirarem fotos junto ao poeta. Na praça, estão também dez totens de 0,90 x 1,60, onde estão gravadas algumas de suas composições.
Dorival Caymmi
O busto é de autoria da artista plástica Márcia Magno, sendo a Fundação Gregório de Mattos autora do projeto do pedestal de um metro de altura. A peça fica sobre base retangular, tem aproximadamente 1m55cm e está montada bem diante da Igreja de Itapuã.
Sereia de Itapuã
Símbolo da cultura e da religiosidade soteropolitanas, a “Sereia de Itapuã” foi esculpida em ferro pelo artista plástico Mário Cravo, em 1958. A obra – que mede 1,60 m e é uma homenagem do artista aos pescadores do bairro – fica situada na orla, na Avenida Octávio Mangabeira.
Mãe Gilda
A ialorixá Gildásia dos Santos tornou-se símbolo de resistência pela afirmação das religiões de matriz africana. Após ter a imagem maculada e o terreiro invadido e depredado por representantes de outra religião, a sacerdotisa teve problemas de saúde agravados e morreu em 21 de janeiro de 2000. O busto que homenageia Mãe Gilda está localizado no Parque do Abaeté, no bairro de Itapuã.
Quando tudo isso passar, pegue todas essas lembranças e dicas de Itapuã e use como guia. Por enquanto, fique em casa. Quando sair, use a máscara, e acredite: sairemos fortalecidos disso tudo, com ainda mais carinho pelo próximo e por essa cidade também.
Por Fernanda Slama
Coordenadora de conteúdo do portal
Nota: este roteiro faz uso de informações anteriormente encomendada pelo Visit Salvador da Bahia sobre o bairro de Itapuã, coletadas por Tatiana Maria Dourado e Maria Dominguez.
Nota*: o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, próximo a Caravelas, é o paraíso das jubartes, maior berço reprodutivo da espécie no Atlântico Sul. Mas há passeios também em locais como Porto Seguro, Itacaré, Morro de São Paulo, Praia do Forte e Salvador.