Quem Fez o 2 de Julho: Lord Cochrane e Antônio Lima

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O escocês que blindou a Baía de Todos os Santos e o defensor de Itaparica

Reportagem: Camila Vieira / Secom PMS

Apelidado por Napoleão Bonaparte como “Lobo do Mar”, Thomas Alexander Cochrane, ou apenas Lord Cochrane, foi um escocês contratado e recompensado a “peso de ouro” para lutar à frente dos navios brasileiros contra os portugueses durante os conflitos de Independência do Brasil na Bahia. Sua passagem pela Baía de Todos os Santos há exatos 200 anos foi crucial para bloquear o acesso dos portugueses, sitiados em Salvador, a alimentos e reforços. Assim, eles se renderam e deixaram a capital livre.

Ele seguiu os portugueses para ter certeza que não voltariam

Quem foi Lord Cochrane, o Lobo do Mar, no 4º episódio do podcast especial Quem Fez o 2 de Julho

Fora do Brasil, o escocês chegou a ser parlamentar e até acusado de fraudar a bolsa de valores inglesa. Embora controverso, o almirante britânico que participou do bloqueio marítimo ao porto de Salvador, impedindo que os portugueses obtivessem mantimentos, é sem dúvidas um dos grandes nomes da Independência da Bahia, que neste ano traz o tema “Salve nossa terra, Salve o Caboclo”.

Contratado por D. Pedro I, Lord Cochrane chega à Bahia na reta final da batalha do 2 de Julho, em maio de 1823. A experiência do comandante foi decisiva, especialmente na Baía de Todos os Santos. Sua principal contribuição foi ter trazido uma frota de grandes navios, capaz de fazer frente às embarcações de guerra portuguesas, maiores e mais poderosas.

E, de fato, sua habilidosa estratégia mudou o rumo das terras baianas. “Ele monta uma operação para cercar os portugueses por todos os lados, evitando que eles tivessem acesso a reforços, mantimentos e comida. Ele monta um forte esquema de proteção da Baía de Todos os Santos, cerca tudo para não deixar navio nenhum passar”, explica o jornalista e pesquisador do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IHGB), Jorge Ramos.

Seu apelido “Lobo do Mar” não foi dado à toa pelos franceses. O pseudônimo originou do sucesso nas apreensões de embarcações que fez durante as guerras napoleônicas. “Para nós, baianos, Lord Cochrane é importante por ter feito o bloqueio final de Salvador, pelo mar. Aí, sim, os portugueses realmente ficaram totalmente isolados. Nenhum barco chega para levar comida pra eles e, assim, acabam se rendendo”, explica o pesquisador.

Ramos conta que um detalhe interessante da participação do “Lobo do Mar” na Independência da Bahia chama atenção. “Quando os portugueses finalmente deixam Salvador nos seus navios e vão para Portugal, a tropa e Cochrane vai acompanhando os portugueses até Portugal. Ele faz isso para ter certeza absoluta de que eles não iriam recuar ou desembarcar em outro canto do Brasil”, frisa o historiador.

Altos e baixos

Lord Cochrane foi um dos poucos comandantes aprovados pela população brasileira. Por sua atuação durante a guerra de Independência, ele foi agraciado com o título de Marquês do Maranhão, homenagem dada por ele ter expulsado a tropa portuguesa atracada no Maranhão e foi, ainda, condecorado com a medalha Grã-Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul.

No entanto, após a demissão de José Bonifácio, as desavenças entre o almirante e o governo brasileiro aumentaram a ponto de ele ter perdido todas as honrarias a ele concedidas. Cochrane faleceu aos 85 anos, em 1860. Suas aventuras marítimas se iniciaram muito antes de vir lutar na Bahia e não terminaram com a sua partida. Relatos históricos dizem que ele foi um dos mais controversos personagens das lutas da Independência do Brasil na Bahia.

Imortalizado

Como parte das homenagens a essa grande figura das batalhas do Dois de Julho, o marinheiro deu nome à Rua Lord Cochrane, na Barra. Além disso, a figura histórica também intitula a Praça Lord Cochrane que está na Avenida Garibaldi, na capital baiana. O espaço público de esporte e lazer é administrado pela Prefeitura de Salvador e em 2018 foi totalmente revitalizado.

Antônio Lima

Antônio de Sousa Lima, nascido em 17 de maio de 1846, foi um português naturalizado brasileiro que fez a defesa de Itaparica por terra. Ele organizou estrategicamente seus homens na faixa de areia de todas as praias da ilha para impedir que ninguém desembarcasse. Embora seja pouco falado e conhecido, teve papel fundamental nas forças de resistência do Recôncavo.

Em 1803, com apenas 10 anos de idade, foi enviado para a Bahia sob a tutela de seu tio, Sebastião da Rocha Soares, um abastado comerciante estabelecido em Salvador. No entanto, após um conflito, seu tio o expulsou de sua casa. Para sobreviver, atuou como professor de primeiras letras de filhos de ricos proprietários rurais no sul da província da Bahia. Depois se dedicou ao comércio, chegando à ilha de Itaparica após comprar um alambique para fabricação de cachaça, vizinho à Fonte da Bica, no centro histórico de Itaparica.

Nesta localidade alistou-se no Regimento de Milícias da Ilha de Itaparica. Em 1822, quando eclodiu a luta pela Independência do Brasil na Bahia, Souza Lima ocupava o posto de alferes. Antes da cidade de Itaparica ser invadida e ocupada pelas tropas portuguesas em 10 de julho de 1822, como tantos outros baianos, foi se juntar às forças de resistência.

Foi nomeado pelo Governo Interino da Província da Bahia para comandar o Batalhão durante a Campanha da Independência em Itaparica, liderando as ações em todo território insular. Sua atuação e liderança foram decisivas em todo o decurso da guerrilha para reconquistar a ilha, iniciada em 29 de julho com a Batalha do Funil e culminando na vitória dos itaparicanos nas Batalhas do 7 de janeiro de 1823.

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