História, tecnologia e fé: região do Comércio liga a Cidade Alta à Cidade Baixa
Mercado Modelo, Terminal Turístico e Igreja da Conceição são pontos turísticos famosos
Quando a família real fugiu de Portugal, a comitiva aportou em Salvador no dia 22 de janeiro de 1808. Desembarcaram no que é hoje o bairro do Comércio, que era a principal porta de entrada para se chegar em Salvador pelo mar naquela época. A região serve, até os dias atuais, como principal porto de mercadorias da cidade.
O surgimento do Comércio está ligado à história da fundação da cidade. Na região, que liga a Cidade Alta à Baixa, ficavam atracados os barcos. O bairro surgiu a partir da construção do porto, que era um ponto de troca e venda de mercadorias, e que concentrava as atividades financeiras da Bahia até o início do século XX.
O Comércio foi o primeiro bairro de negócios organizado do país e teve protagonismo absoluto nesse segmento até a década de 1960, quando Salvador passou por um processo de descentralização com a criação do Centro Administrativo da Bahia (CAB) e expansão da região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves.
O bairro passou por um processo de modernização e requalificação através de melhorias de infraestrutura, mobilidade, valorização do patrimônio público, equipamentos estruturantes, além de ações culturais. Hoje, o Comércio começa a se transformar, e recebe startups e empresas de base tecnológica, como, por exemplo, o HUB Salvador.
A visita pelo Comércio é uma síntese do que é Salvador: uma mistura de modernidade, história e patrimônio. História, tecnologia e fé estão reunidas na região do Comércio que liga a Cidade Alta à Cidade Baixa.
Na fé
A Igreja Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia é uma das principais de Salvador e ocupa lugar de destaque no bairro do Comércio, logo ao lado do Elevador Lacerda. A igreja é cercada pelas ladeiras da Montanha e da Preguiça, sendo que seu principal acesso é feito pela Avenida Contorno. O teto da nave tem concepção ilusionista barroca de origem italiana. Foi construída entre 1739 e 1849, no local onde havia uma capela de taipa de pilão, erguida em 1549 por determinação do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa.
Sua atual construção foi feita toda de pedra de lioz trazida de Portugal. Ela recebeu o título de basílica menor por meio da Carta Apostólica Coruscantis sideris, de 7 de outubro de 1946, do papa Pio XII. Lá, todo ano, acontece a festa de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no dia 8 de dezembro, e também, em janeiro, é o ponto de partida para a procissão e lavagem do Senhor do Bonfim e a procissão de Bom Jesus dos Navegantes.
Apesar de ser a mais famosa, não é a única igreja do Comércio. A matriz de Nossa Senhora do Pilar, localizada na parte baixa do bairro, é uma preciosidade da fé e devoção dos baianos. Na igreja, há uma fonte de água que muitos consideram milagrosa para os cuidados com os olhos, no templo que homenageia Santa Luzia, a protetora da visão.
A Capela de São Pedro Gonçalves do Corpo Santo é sede da Irmandade de São José do Corpo Santo, que também administra a propriedade no bairro do Comércio. Ela foi construída em alvenaria de pedra e cal e abriga uma imagem de Nosso Senhor da Redenção, atribuída a Francisco das Chagas, o Cabra. É uma das esculturas barrocas mais importantes do Brasil.
Para turistar
Quem visita o bairro do Comércio tem duas paradas obrigatórias. Vir a Salvador e não subir/descer o Elevador Lacerda e passear pelo Mercado Modelo é o mesmo de ir ao Vaticano e não ver o Papa.
Inaugurado em 1873, o Elevador Lacerda figurou por muitos anos como o mais alto do mundo. Após a sua inauguração, passou a ser o principal meio de transporte entre a Cidade Alta, onde se encontra o centro histórico, e a Cidade Baixa, local de concentração de atividades financeiras e comerciais em Salvador.
Ele não é o único meio de ligação do Comércio. Há também o plano Inclinado Gonçalves, plano Inclinado do Pilar e o plano Inclinado Liberdade-Calçada. Além dos ascensores, há ruas e avenidas que fazem esse elo.
Inaugurado em 1912, o Mercado Modelo surgiu pela necessidade de um centro de abastecimento na Cidade Baixa da capital baiana. Tem 8 mil metros quadrados e dois pavimentos, abriga lojas que oferecem a maior variedade de artesanato, presentes e lembranças da Bahia, além de tradicionais restaurantes como o Maria de São Pedro e o Camafeu de Oxossi.
A construção fica em frente ao Terminal Turístico Náutico da Bahia, de onde se pode pegar embarcações para visitar as ilhas de Salvador, e também fica ao lado da sede da Marinha do Brasil na Bahia.
Agora, também dá para curtir um passeio de bicicleta por lá. Comece o role pela Praça Cairu, do Mercado Modelo, que tá lindona depois da reforma. Aproveite e passeie pela Praça da Inglaterra e dê uma esticada até a Praça Marechal Deodoro, popularmente conhecida como Praça do Ouro ou Praça das Mãozinhas. Tem ciclovia na Avenida Jequitaia, seguindo pela Travessa do Cais do Ouro, até a Rua Torquato Bahia, com boa pavimentação, acessibilidade, estacionamento, pontos de ônibus, mobiliário urbano e paisagismo. Tire uma foto na frente do Monumento das Nações, mais conhecido como “Monumento das Mãozinhas”, responsável pelo nome popular desta praça.
Passado e presente
Nos pontos turísticos e esculturas do Comércio há leitores de QR Code que, por meio de um dispositivo móvel, te permitem conhecer ainda mais a história do bairro. O bairro tem centenas de casarões históricos e construções importantes para a cidade.
No mar, não distante do Terminal Turístico Náutico da Bahia, uma fortaleza, de formato arredondado, chama atenção. Trata-se do Forte São Marcelo, um cartão postal cheio de charme, construído nos primeiros anos do século XVII. Com o selo de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, conquistado em 1938, não é à toa que o Forte São Marcelo desperta em todo mundo o desejo de conferir essa beleza toda de perto. Desde 2011, a fortaleza encontra-se fechada para balanço, arrancando suspiros daqueles que namoram esta fortificação à distância.
Em terra, o prédio da Associação Comercial da Bahia foi inaugurado em 28 de janeiro de 1817, e sedia a mais antiga associação patronal do Brasil. Estilo neoclássico, o palácio tem projeto do arquiteto português Cosme Damião da Cunha Fidié. A fachada principal está voltada para a Praça Riachuelo, construída pela própria associação, em 1866. A fachada posterior está ligada à Praça Conde dos Arcos.
O prédio abriga, atualmente, exposição permanente da Maquete de Salvador, idealizada pelo arquiteto Assis Reis, morto em 2011. A maquete, que está em processo de tombamento como patrimônio cultural e histórico de Salvador, é em escala 1:2.000, abrange todo o território do município e é até hoje constantemente atualizada pela prefeitura da cidade.
O bairro abriga também a SECIS – Secretaria de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador. O prédio supermoderno fica na Rua da Grécia. A fachada, coberta de vegetação, já virou cartão-postal no Comércio, com pelo menos 10 espécies de vegetais plantados em caqueiros que enfeitam toda a frente do edifício.
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O local dispõe ainda de mais de 20 itens de sustentabilidade, entre eles, placas solares que geram energia limpa. O prédio também tem um auditório a céu aberto no terraço onde acontecem alguns eventos culturais. Fique de olho nas redes deles para saber toda a programação. (instagram: @secissalvador).
O Porto de Salvador
Quase completamente cercada pelo mar, Salvador é uma península. Da Barra para cima, Oceano Atlântico. Da Barra pra baixo, a exuberante Baía de Todos os Santos. Essa condição geográfica permite que estejamos na rota de cruzeiros nacionais e internacionais. O Porto de Salvador possui historicamente o terceiro maior número de escalas de navios de cruzeiros marítimos dentre os Portos do Brasil e tal posição corrobora com a atratividade turística, multicultural, exuberante arquitetonicamente e diversa em belezas naturais. A temporada de navios vai de novembro até abril. Por estar no Comércio, a localização do Terminal Marítimo de Cruzeiro é privilegiada: dá acesso ao famoso Centro Histórico de Salvador em menos de 10 minutos. Para quem for direto para a Igreja do Bonfim, o percurso não levará mais do que 30 minutos, e para a Barra, está distante um pouco mais de 6 quilômetros.