O filme “Follow the Music” te leva a um passeio musical pela cidade

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Deixe o som de Salvador te levar

“A música – do grego ’musiké téchne‘, a arte das musas – é uma forma de arte que se constitui na combinação de vários sons e ritmos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo”. A descrição da palavra música em Salvador ganha uma conotação muito mais abrangente do que a formal de um dicionário. Música aqui é território, é encontro e resistência. Ritmo e melodia estão em todo lugar, é só caminhar pelas ruas e deixar o som te levar.

São Salvador da Bahia, a meca negra latina, uma das maiores cidades de maioria negra fora da África. Aqui o colonialismo que tentou apagar as tradições da diáspora negra fez brotar um forte sincretismo religioso, tamanha grandeza das religiões de matrizes africanas. Não há uma festa popular onde orixás e santos católicos não sejam celebrados em comunhão. É ao som de tambores e atabaques que a música une tantos universos, misturando tudo com um singular equilíbrio entre o sagrado e o profano: onde fé, comida boa e música se encontram.

E que terra rica em sonoridades. Desde o samba, a bossa nova e a música popular brasileira, ao axé, o rock, o rap e o pagode baiano. Artistas como Batatinha, Riachão, Chocolate da Bahia e Nelson Rufino, João Gilberto, Dorival Caymmi, Mateus Aleluia, Gilberto Gil, Olodum, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Baby do Brasil, Lazzo Matumbi, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Xanddy Harmonia, Léo Santana, inspirações para a nova geração como BaianaSystem, Luedji Luna, ÀTTØØXXÁ, Baco Exu do Blues, Xênia França e Larissa Luz. Melhor parar por aqui, do contrário esse texto vai precisar de mais alguns parágrafos só falando de tantos talentos.

Campanha do filme Follow the Music. Foto: Tércio Campelo / Heat Creative.

É exatamente sobre este caldeirão musical que este filme se trata. Follow the Music é um convite a se entregar a esta cidade vibrante através da música. Um projeto carinhoso que mostra as tantas cidades que formam Salvador, a profusão de ritmos e suas múltiplas faces. A intenção é te deixar ainda mais curioso a conhecer Salvador profundamente, através de boa música e imagens de tirar o fôlego. Prepare-se, pois, depois de assistir, você vai querer sair por aí dançando em cada lugar.

Follow the Music passeia por toda a cidade mostrando pessoas dançando em pontos turísticos como o Palácio Rio Branco, Elevador Lacerda, Igreja de Nossa Senhora D´Ajuda, Praia da Barra, e também na Comunidade da Gamboa, no Nordeste de Amaralina, nos trens que passam pelo Subúrbio Ferroviário e no ABOCA Centro de Artes, no charmoso bairro do Santo Antônio Além do Carmo. Os dançarinos e personagens convidados têm excelentes histórias de representatividade na cidade, trazendo para o filme um pouco de seus trabalhos pessoais e história.

Campanha do filme Follow the Music. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.

A trilha foi desenvolvida por João Gabriel Ubunto com adições instrumentais de peso de Letieres Leite, Chibatinha (ÀTTØØXXÁ) e Nanny Santos (Cortejo Afro). O interessante é que, a cada cena, novos instrumentos vão sendo inseridos à música que vai se transformando durante o clipe. Quem assiste vai sentindo a energia entrando pelos ouvidos, o coração entra no ritmo do atabaque até que é inevitável começar a batucar na mesa ou até levantar para dançar junto. A cada cena, um lugar diferente da cidade e um som novo são apresentados.

Esse clipe fala muito de representatividade

O músico, produtor e DJ, João Gabriel Ubunto mora em São Paulo, mas é soteropolitano de Itapuã, bairro conhecido exatamente por ser um dos mais musicais de Salvador. Ele toca um pouco de tudo, mas curte mais bateria e percussão. João considera isso essencial no seu trabalho de produção musical, para ter uma noção harmônica. O samba de roda, o pagodão e o ijexá são os principais elementos usados nas suas criações. É dele a trilha que embala este clipe.

Campanha do filme Follow the Music. João Gabriel Ubunto. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.

Para o projeto Follow the Music, o DJ fez uma fusão de elementos musicais regionais inspirada em uma manifestação folclórica da Bahia chamada “Caretas”– tradicional tanto no recôncavo quanto no litoral norte e no interior da Bahia. “Usei a base da música Caretas e fiz um remix instrumental dessa música. Coloquei novos elementos em um preenchimento de percussão orgânica e novos arranjos de corda (guitarra) e sopros”, conta.

E é ai que entra a flauta do multitalentoso Letieres Leite. Bastou a música criada por Ubanto tocar algumas vezes e Letieres já pegou o espírito e a harmonia, fazendo interferências e solos brilhantes. Letieres é músico, educador, compositor e arranjador. Já ganhou prêmios como o 21º Prêmio da Música Brasileira (Melhor Grupo Instrumental e Revelação do Ano), Prêmio Bravo! 2010 (Melhor CD Popular), Itaú Cultural 2010, Natura Musical 2010, O Globo (Melhores da música em 2010), entre muitos outros. Já regeu a big band de Hermeto Pascoal (com o próprio Hermeto ao piano) no Festival de Música Instrumental da Bahia, em 2004.

O baiano é o idealizador da premiada big band Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz, formada só por músicos de sopros e percussão que desbrava uma pesquisa baseada na fusão de ritmos das raízes da música afrobaiana e os seus galhos universais, com as dinâmicas do jazz. Já com o Letieres Leite Quinteto, faz composição e improvisação a partir dos mesmos princípios rítmicos. Também tem o projeto social Rumpilezzinho – que forma jovens sob a orientação do Maestro. Além disso, já trabalhou com grandes artistas como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Caetano Veloso, Timbalada, Daniela Mercury, Elza Soares, Stanley Jordan, Carlinhos Brown, Olodum e a cantora Ivete Sangalo.

Campanha do filme Follow the Music. Nanny Santos. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.

Outras duas parcerias foram imprescindíveis para a música “groovar”: Nanny Santos e Chibatinha. Nanny está no universo da música desde os 11 anos de idade, e o tambor que ecoa como som de protesto é também seu codinome nas redes sociais: a menina e o tambor. Ela toca no bloco Cortejo Afro e recentemente se apresentou junto com a Orkestra Rumpilezz no Festival da Primavera. Já Chibatinha é integrante da banda ÀTTØØXXÁ, donos de uma pancada sonora também conhecida como “neo-pagodão” ou Pagode do futuro. A banda tem em sua formação Rafa Dias, responsável pelos sintetizadores e beats, Oz (voz), Raoni (voz) e Chibatinha (guitarra).

Entre as muitas personalidades que mostraram sua dança no vídeo, está Edilene Alves, que foi Deusa do Ébano em 2009. Depois de 10 anos desde que foi eleita, seus olhos ainda brilham ao contar sobre a importância do Bloco Afro Ilê Aiyê em sua vida. Edilene aparece no clipe dançando com a indumentária tradicional da Deusa do Ébano, com amarrações da própria Dete Lima, estilista e uma das dirigentes que formaram o bloco. “Só Dete Lima pode fazer esta roupa, ela é toda de amarrações feitas no próprio corpo. Se vestir para dançar faz parte do ritual, é quando o que está internalizado sai, pois a dança é completamente afetiva, ela aflora a sua verdade”, conta.

Campanha do filme Follow the Music. Edilene Alves, Deusa do Ébano (2009), do Bloco Afro Ilê Aiyê. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative.jpg

O toque do tambor dos blocos afro que arrepia, que emociona, que é Bahia, está aqui representada pelo Olodum. O grupo, que ganhou sonoridades diferentes, e transformou a musicalidade africana calcada na percussão, é expressão viva do samba-reggae, ritmo idealizado e criado por Neguinho do Samba. As personalidades convidadas foram Bira Jackson e Andreia Reis. Bira é o músico que toca ao lado de Michael Jackson no clipe “They don’t really care about us”, onde o Olodum fez uma participação de peso. Andreia aparece no Follow the Music mostrando a força feminina que vem crescendo no grupo. Ela é maestrina da Banda Olodum e a primeira mulher a reger uma banda de percussão majoritariamente masculina. Andreia será uma das homenageadas no carnaval 2020 com o tema: Mãe, Mulher, Maria, Olodum: Uma História das Mulheres.

https://www.salvadordabahia.com/experiencias/olodum/

Também foi convidada Spadina Banks, uma das Drags mais badaladas da atualidade. Ela faz parte de uma cena efervescente de Salvador que vem se destacando entre outras cidades do país. “Somos parte de uma geração de artistas muito politizados, que trabalham juntos pela valorização dos espaços de resistência. Transportamos este sentimento para os palcos, o discurso está em todas as apresentações”, explica Douglas Nassife, que se apresenta como Spadina Banks há quatro anos.

Rony Timas de Sena, Monalisa Brandão Lima e os pequenos Bem e Tom são as representações aos orixás. Com muito respeito, eles contam as origens dos ritmos percussivos mostrando que os Deuses Africanos também transitam no dia a dia da cidade. O Exu, orixá da comunicação, guardião da rua, rei da dança, é representado por Rony. A Yemanjá, Rainha das águas, uma das divindades mais populares do Brasil, a “Mãe cujos filhos são peixes”, a bela que recebe presentes como alfazema, espelho e flores todo dia dois de fevereiro, é aqui representada pela linda Monalisa, no mar da Barra. Já os pequenos Bem e Tom, que brincam nos becos da Feira de São Joaquim, fazem alusão aos Ibejis, os irmãos arteiros que trazem harmonia e felicidade ao ambiente em que se encontram.

Campanha do filme Follow the Music. Luana, Josineia e Luma, a família Nascimento. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative

Josineia, Luma e Luana, a família Nascimento, aparece em uma cena grandiosa de muita beleza. Mãe e filhas representam sabedoria, resistência e empoderamento. Joseneia é educadora e sempre ensinou às filhas que educação é a base de tudo. Luma e Luana são conhecidas por seu discurso afiado nas redes sociais, assumindo um papel importante de discussão sobre assuntos como racismo, feminismo, aceitação e empreendedorismo. A família é completamente ligada à musicalidade baiana, uma vez que o pai de Luma e Luana é Paulo Roberto Nascimento, presidente e idealizador do Bloco Afro Os Negões , uma das instituições mais respeitadas mundialmente em política social e racial de Salvador.

As três estão vestidas pela marca de roupas da Luana, a DressCoração, uma das queridinhas dos fashionistas da cidade. A cena ainda teve a composição dos tecidos estampados por Goya Lopes. Goya é uma das grandes estilistas baianas, conhecida por contar histórias ancestrais através de suas estampas.

Entre uma gravação e outra, toda a equipe fez uma excelente refeição em um restaurante dentro da Comunidade do Solar do Unhão, ali coladinha ao Museu de Arte Moderna (MAM). O restaurante de Dona Suzana é conhecido pelo carisma de Su e por sua moqueca de arraia. Saiba mais sobre ela e seus quitutes neste link.

Quem teve um papel importante para que tudo fluísse bem foi Adriano de Jesus, Vice-Presidente da Associação de moradores da Comunidade da Gamboa de Baixo. Ele contou que o bairro da Gamboa se caracteriza pela comunidade litorânea, secularmente habitada por pescadores, situada de frente para a Baía de Todos os Santos, nas proximidades do centro de Salvador. O local ficou ainda mais conhecido depois da gravação do clipe da música “Bola rebola”, da Anitta. “Tem muita coisa acontecendo por aqui. O restaurante de Suzana no Solar e o bar da Mônica aqui na Gamboa trazem muitos moradores de outros bairros e muitos turistas. Ainda mais que aqui tem esse pôr do sol maravilhoso”, explica Adriano.

Campanha do filme Follow the Music. O capoeirista, Igor dos Santos Souza. Foto_ Tércio Campelo_Heat Creative

Muitas outras pessoas legais participaram dançando em diferentes locais da cidade, como o caso de Carina Mackels, a belga que veio aprender português em Salvador e se apaixonou pela cidade. Ela ama bossa nova e é fã de João Gilberto. O capoeirista Igor dos Santos Souza, que deixou todos boquiabertos com seus movimentos expressivos. A bailarina Juliana Marques, que conseguiu unir dois mundos: dançou ballet clássico ao som do pagode baiano em um estilo contemporâneo. As meninas representando os movimentos de danças urbanas como Roda Urbana, Flow Minas, InRitmo Crew e AfroRaga, aqui representadas por Adrielle Bispo, Thalita Farias, Priscila Nepomuceno e Adriele Souza. E também Paulo Alves, Deco Oliveira e Neilton Ajôhir, bailarinos do ballet VIP. Deco e Neilton foram alguns dos dançarinos que, entre de muitos outros trabalhos, fizeram a coreografia da música ‘Elas Gostam (Popa da Bunda)’ que estourou no país com ÀTTØØXXÁ e Márcio Victor Psirico depois de ser o hit do Carnaval de Salvador em 2018.

Aumente o som e divirta-se vendo essa galera toda dançar no Candeal, no Santo Antônio Além do Carmo, no Pelourinho e na Feira de São Joaquim. Também tem um pessoal massa de patins pelo Comércio, de skate no Parque da Cidade e curtindo a praia na Barraca do Lôro, em Stella Maris. Venha com a gente e siga a música.

Por Fernanda Slama
Coordenadora de Conteúdo do portal Salvadordabahia.com

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