Mixtape Salvador por Telefunksoul

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Telefunksoul. Foto: Divulgação

Uma volta pela história musical da Bahia através de 20 vinis

O disco de vinil não morreu. Muito pelo contrário, o amor e a vontade de ter “a música física” na sua mão só crescem. Essa tendência mundial se explica por muitos motivos: seja pela qualidade do som, a busca por novas influências ou o gosto por clássicos da música, os vinis fazem muitas pessoas buscarem lojas especializadas. Nos últimos 5 anos, pesquisas vêm mostrando que o consumo dos LPs está aumentando cada vez mais, e até máquinas antigas de vinil, algumas de 1954, estão voltando a funcionar.

Como muito bem escrito na matéria “Disco de Vinil: de velharia a queridinho”, descobrimos que ele não só está vivo como é imortal. O álbum é uma obra completa, reunindo a arte gráfica com o repertório selecionado e disposto em uma certa ordem, formando um discurso maior do que os minutos de uma canção executada em shuffle.

“Vinil é cheiro, sentimento, toque, é grave. Extremamente sensorial. Não é só um áudio. No vinil, você sabe quem gravou, quem tocou, quem produziu, quem fez a capa…”, explica Telefunksoul , DJ, produtor musical e colecionador de vinis.

Salvador, Cidade da Música pela Unesco, título este conquistado por ser berço musical do Brasil, sempre teve uma produção musical pulsante. Muitos clássicos da música nacional são de origem baiana e, por este motivo, a quantidade de vinis dos grandes nomes achados em sebos e bazares pelo país, são daqui.

E o que você acha de fazer um verdadeiro passeio apaixonado e apaixonante por este universo? Apaixonado por ser intenso e coberto de fatos curiosos. Apaixonante porque é bem provável que ao terminar de ler, você va querer ser o próximo grande colecionador de Lps do seu grupo de amigos.

Para tal missão, convidamos o DJ e produtor musical Mauro Telefunksoul, precursor do movimento musical Bahia Bass. Ele é DJ dos Coletivos Pragatecno e Nobreza Vinyl Sessions, residente da Festa Onda e #Foveragem. Ele vai nos levar por uma volta pela história musical da Bahia através de 20 vinis escolhidos por ele. Vamos nessa! Essa é a Mixtape Salvador por Telefunksoul.

Telefunksoul. Salvador Bahia. Foto: divulgação.

Depois dessa lista, conversamos sobre os caminhos da produção musical baiana, o retorno dos vinis no mercado, e ele explicou um pouco sobre garimpo de vinis e onde comprar em Salvador. Tá massa!

Preparamos uma lista com músicas perfeitas para esta experiência. Corre lá no Spotify ou no Deezer e ouça agora!

VisitSSA: A missão era remontar a história musical da Bahia. O que você pensou para formar essa lista? Qual foi o seu mote?

Telefunksoul : Todo mundo que pensa em uma playlist “Bahia”, é incrível, mas só vem samba-reggae e axé. Aí escolhe 10 tipos de disco de axé, como se fosse só o axé o representante da Bahia, sendo que axé foi um movimento. Na Bahia existe reggae, existe rock, existe música erudita, clássica, música eletrônica, rap, forró, existe samba. Aí parece que o “top 10 de músicas” é o “top 10 do axé que fez sucesso”, e acaba que a gente esquece de músicas e outros movimentos que tivemos na Bahia.

Se liga nessa lista

1. Os Tincoãs

Crédito: Os Tincoãs em reprodução de capa de disco

Os Tincoãs
Selo: Odeon ‎– SMOFB-3792. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1973. Genre: Jazz, Latin. Estilo: Samba, MPB. Fonte.

“Essa é a música de candomblé que virou pop. Não porque eles quiseram, mas pelos outros artistas que se acharam representados e começaram a tocar as músicas. A Timbalada, se você olhar a maioria das músicas de Carlinhos Brown, são dos Tincoãs.”

2. Afros e afoxés da Bahia

Afros e afoxés da Bahia. Capa do Vinil. Reprodução

Various ‎– Afros E Afoxés Da Bahia
Selo: Polydor ‎– 837 658-1. Formato: Vinyl, LP. País: Brasil. Lançado: 1988. Genre: Latin, Folk, World, & Country. Estilo: Batucada, Afro-Cuban, Samba, Afrobeat, African. Fonte.

“Este álbum engloba o Olodum, o Ilê , o Malê, os Filhos de Gandhy e muitos outros. Foi um disco feito por Edil Pacheco. Eu fiz um disco, o Afroxé BAss, em homenagem a este disco de Edil Pacheco. Um tributo a cada afoxé da Bahia, por isso Afroxé BAss (BA de Bahia e o SS do Bass, do estilo de música eletrônica), um Frankenstein de palavras, assim como minha música é, uma grande mistura, um open format.”

3. Bahia Jamaica – Jorge Alfredo e Chico Evangelista

Bahia Jamaica – Jorge Alfredo e Chico Evangelista. Capa do Vinil. Reprodução

Jorge Alfredo, Chico Evangelista ‎– Bahia Jamaica
Selo: Copacabana ‎– COLP-12574. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1980. Genre: Reggae, Latin. Estilo: Reggae. Fonte.

“Esse disco era difícil de comprar, ele foi a introdução do reggae na Bahia, já com uma sonoridade baiana: reggae Bahia – Bahia reggae, uma nova sonoridade. Se você ouvir Curumim hoje, é influência total este disco, Bahia Jamaica. Esse disco, na verdade, influenciou geral, músicas que falam da cidade, de Amaralina, ele cita os bairros, fala do futebol, da questão da praia.

Nessa mesma época, vem Gilberto Gil cantando Bob Marley, então foi uma época muito reggae. Bahia Jamaica é um álbum que eu ouço sempre, veio com um pôster lindo, é muito bem gravado e é referência total para qualquer baiano. Para mim, este é um dos discos mais importantes.”

4. Gilberto Gil – Refavela

Gilberto Gil – Refavela. Capa do Vinil. Reprodução

Artista: GILBERTO GIL. Album: REFAVELA. Gênero: MPB. Mídia: Vinil / LP 180 gramas (01 unidade – 10 músicas). Rotação: 33 1/3 RPM. Selo: Polysom. País/Prensagem: Brasil (em estoque). Data Original de Lançamento: 1977. UPC/EAN: 7898324314544. Fonte.

“Para mim, esse disco é maravilho e total baiano. Na verdade, eu queria colocar todos de Gil! (risos).”

5. Caetano Veloso

Caetano Veloso. Capa do Vinil. Reprodução

Segura esse relançamento de peso! A Third Man Records, gravadora norte-americana de Jack White, anunciou a reprensagem em vinil do clássico Caetano Veloso (1968), marco do movimento tropicalista. Fonte.

“Tropicália, num período pré-ditadura, Caetano querendo falar sobre a coisa e sendo podado. Então hoje, com tantos adoradores da ditadura, infelizmente… Este disco está tão atual.“

6. Eu sou negão – Gerônimo

Eu sou negão – Geronimo. Capa do Vinil. Reprodução.

Selo: Continental (3) ‎– 135.903.001. Formato: Vinyl, 12″. País: Brasil. Lançado: 1987. Genre: Latin.  Fonte.

“Esse representa a música de rua, a música eletrônica, porque já é a introdução do mid back, onde as produções da Bahia já passam a ser computadorizadas, de baterias eletrônicas, teclado, tudo programado. Então “Eu sou negão” é uma sonoridade nova para a Bahia, um divisor de águas, onde sai do orgânico. Os produtores começam a fazer a música axé eletrônica, mas ainda sem saber que é eletrônico.

Gerônimo também trouxe para a música os sotaques da rua. Quando uma pessoa chega para a outro e diz: ‘qual é mermão, não se passe não, eu sou boca de zero nove*’. Ele já falava as gírias, pois, até então, eram letras falando sobre cotidiano, sobre o protesto negro, sobre as histórias de Ifá, dos Faraós. Aí vem Gerônimo, numa leitura debochada, dizendo assim: eu quero o meu espaço, eu sou brown*, eu gosto de música tal e você me deixa tocar.”

7. Acabou Chorare – Novos baianos

Acabou Chorare – Novos baianos. Capa do Vinil. Reprodução.

Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, Baby do Brasil (na época Consuelo), Luiz Galvão, Pepeu Gomes, Dadi Carvalho e Jorginho Gomes criaram uma obra singular: “Acabou Chorare” (1972). Fonte.

“Este eu não preciso nem explicar o porquê da minha escolha! É o que mais representa a Bahia na música pop rock, louca, músicas sem barreiras.”

8. Massa – Raimundo Sodré

Massa – Raimundo Sodré. Capa do Vinil. Reprodução.

Selo: Polydor ‎– 2451 144. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1980 Genre: Latin. Estilo: MPB, Forró. Fonte.

“’Massa’ e o álbum ‘Filho do Povo’, representam o interior do estado, o samba de roda, o recôncavo, a macumba, a música de viola, a música cantada de rua. Em ‘Massa’, a letra é de Jorge Portugal e Raimundo Sodré, não poderia faltar. ‘Filho do Povo’, Walter Queiroz, um compositor maravilhoso com influencias do candomblé e da umbanda, reverenciando os santos”.

9. Filho do Povo – Walter Queiroz

Filho do Povo – Walter Queiroz. Capa do Vinil. Reprodução.

Filho Do Povo (Vinyl, LP, Album) capa do álbum
Selo: Philips ‎– 6349 332. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1977. Genre: Latin. Fonte.

10. Frutificar – A cor do som

Frutificar – A cor do som. Capa do Vinil. Reprodução.

Frutificar (Vinyl, LP, Album) capa do álbum
Selo: Atlantic ‎– BR 30.107. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1979. Genre: Rock, Latin, Pop. Estilo: MPB, Pop Rock, Experimental. Fonte.

11. Viver, sentir e amar – Lazzo

Viver, sentir e amar – Lazzo. Capa do Vinil. Reprodução.

Viver, Sentir E Amar (Vinyl, LP) capa do álbum
Selo: Pointer ‎– EP 005. Formato: Vinyl, LP. País: Brazil. Lançado: 1983. Genre: Reggae, Latin, Funk / Soul. Estilo: Bossanova, MPB, Reggae, Funk, Disco, Soul. Fonte.

“Do jeito que seu nego gosta, para mim, é um dos reggaes mais bonitos já produzidos. Esse álbum é o primeiro oficial do Lazzo. Antes, saiu um compacto chamado Jamaica, que ele estava inserido também no reggae, só que do jeito que ele canta parece que você tá ouvindo uma MPB, uma coisa mais romântica. Mas é reggae, é a base. É tipo um reggae do Maranhão, aquilo de dançar coladinho, meio que música caribenha, latina. Lazzo tem isso: um pé na Bahia e outro na Jamaica.”

12. Faraó – Djalma Oliveira e Margareth Menezes

Faraó – Djalma Oliveira e Margareth Menezes. Reprodução.

Selo: Epic ‎– 60.019. Formato: Vinyl, 12″, Single, Stereo. País: Brasil. Lançado: 1987. Genre: Latin. Fonte.

“Esse disco é um marco por ter sido a primeira gravação de Axé Music que estourou. A música de Dodô e Osmar já existia, o carnaval, o samba reggae. Mas o axé propriamente dito. Porque a do Luiz Caldas, na época, foi considerada como deboche: antes do axé, veio o deboche, o fricote, o samba reggae, o reggae, tudo isso influenciou para a virada do movimento axé. Axé Music não é estilo, mas sim um movimento que você engloba vários estilos.”

13. Capoeira, arte e ofício – Mestre Eziquiel

Capoeira, arte e ofício – Mestre Eziquiel. Reprodução.

Saiba mais sobre o Mestre Eziquiel neste link.

“Esse, o próprio Eziquiel fotografou quando ele doou ou vendeu o disco. Ele já vendia assim. Esse foi uma produção independente, muito importante, raro e caro. Foi um dos primeiros discos de capoeira a serem gravados, se não foi o primeiro de capoeira angola da Bahia, então foi uma tiragem pequena. Um disco desse não custa menos de R$700,00, e é provável que todos estejam autografados.”

14. Luiz Caldas e Acordes Verdes

Luiz Caldas e Acordes Verdes. Capa do Vinil. Reprodução.

O Beijo / Como Um Raio (Vinyl, 7″) capa do álbum.
Selo: Not On Label ‎– 526.101.245. Formato: Vinyl, 7″. País: Brasil. Lançado: 1983. Genre: Latin. Estilo: MPB, Axé. Fonte.

“Escolhi por ser a primeira banda de Luiz Caldas, onde Carlinhos Brown era percussionista. Agora imagine: Brown e Luiz Caldas em uma banda só. Imagine que sonoridade, que coisa linda. E você já ouve na música as viradas que Brown inventou e jogou para a Timbalada, aquelas dobradas.

Esse disco traz um novo momento do trio elétrico: antes dele era Fubica e guitarra baiana. Depois daí, virou guitarra ’normal‘, virou percussão, virou tribal, virou axé. Virou World Music.”
O percursionista Tony Mola, um dos fundadores do Axé Music, fez parte da formação original da lendária banda Acordes Verdes e foi também fundador do Bragadá. Ele faleceu recentemente, em 2019.

15. Barraca do Chocolate – Chocolate da Bahia (do Mercado Modelo da Bahia)

Barraca do Chocolate – Chocolate da Bahia. Capa do Vinil. Reprodução.

Barraca Do Chocolate (Vinyl, LP, Album) – (Curiosidade: dentro vinha com uma “medida” do Senhor do Bonfim)

Selo: Som Livre ‎– 403.6122. Formato:. Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1977. Genre: Latin, Funk / Soul. Estilo: Samba. Fonte.

“Chocolate da Bahia é uma figura ímpar. Estudei com o filho dele e depois o conheci. Ele era vendedor e tinha uma barraca no Mercado Modelo, a Barraca do Chocolate. A história que contam é que, nesse vai e vem de pessoas, numa roda de capoeira – ele era capoeirista – tinha um dos caras grandes da gravadora Som Livre, que acabou se sentindo mal. Chocolate cuidou do cara, deu um remédio. E aí o cara melhorou. Pois, em agradecimento, Chocolate da Bahia teve seu disco gravado, o primeiro do gênero em vinil no Brasil a ser lançado por uma grande gravadora. Esse disco foi produzido por Guto Graça Mello.”

16. Timbalada

Timbalada. Capa do Vinil. Reprodução.

Selo: Philips ‎– 518 068-1. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1993. Genre: Latin, Funk / Soul, Folk, World, & Country. Estilo: Afrobeat, Soul, Batucada. Fonte.

“Este mostra muito a música tribal, a sensualidade, o corpo pintado. Tem o sotaque indígena, africano, caboclo. Essas são as coisas que a Timbalada propôs pra gente. O empoderamento negro, uma banda só de negros, com um cacique na frente, um índio negro. Carlinhos Brown é isso tudo, uma entidade, tipo Gilberto Gil.”

17. Bahia Bass – The Finds & Mauro TelefunckSoul

Telefunksoul. Salvador Bahia. Foto: divulgação.

The Finds & Bahia Bass – seleção Telefunksoul (Edição especial)
Mauro Telefunksoul ‎– The Finds & Bahia Bass
Selo: Polysom ‎– 001. Formato: Vinyl, 12″, 33 ⅓ RPM, Shape, Compilation, Special Edition, Stereo. País: Brasil. Lançado: 2016. Genre: Electronic. Estilo: Bassline, Experimental. Fonte.

“O Bahia Bass não é um estilo de som, é um movimento que engloba o pagode eletrônico, o samba-reggae eletrônico, o samba de roda eletrônico. Tudo que você faz com a sonoridade baiana e a sonoridade Bass Music.”

Em 2019, nasceu a Coletânea em vinil “The Finds & Bahia Bass Selekta Telefunksoul”, uma parceria com a multimarcas The Finds, com curadoria feita por Mauro Telefunksoul ‎e masterização pelo mestre Arthur Joly. São 8 faixas.

A coletânea é composta, em sua maioria, por artistas locais baianos, e o propósito foi mostrar o novo movimento e a nova sonoridade chamada BAHIA BASS.

18. Úteros em Fúria (Wombs in Rage)

Úteros em Fúria (Wombs in Rage). Capa do Vinil. Reprodução.

Úteros em Fúria ‎– Wombs in Rage
Selo: Natasha Records ‎– 0684279041. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brasil. Lançado: 1993. Genre: Rock. Estilo: Hard Rock, Glam, Alternative Rock, Heavy Metal. Fonte.

“A gente (a Bahia) sempre foi conhecido por ter tido as primeiras bandas de rock, com os Panteras, Raul Seixas e outros, sacou? Mas eu comecei a ouvir rock não foi por Raul. Eu comecei com Úteros em Fúria. Salvador tinha uma cena massa com Lisergia, Crack, Dois Sapos e Meio. Aí também tinha o Inkoma (primeira banda da cantora baiana, Pitty) e Injuria que eram bandas que dominavam o cenário alternativo.

Todas estas bandas já vieram com o fim do vinil. A última a ter foi justamente a Úteros em Fúria. Até 95, ainda se tinham vinis no Brasil. Esse vinil é considerado raro, porque foi um dos discos que encerrou o período de vinil da história, sendo a última tiragem e muito pequena quantidade, até porque o CD já era vendido, os ovos de ouro da época.

Úteros em Fúria era influenciado pelo rock de Seatle, o grunge. Você se lembra da época do grunge, que a galera usava roupa de São João? (muitos risos). Foi uma mistura de você poder ouvir hip-hop, somado com funk music dos anos 70, rockn’roll, com guitarra pesada de metal, mas com suingue, não só o metal hard core. E tinha aquela mistura do rap e do groove. O Úteros representou por isso, por sua mistura.“

19. Bloco do Prazer – Armandinho e o Trio Elétrico Dodô e Osmar

Bloco do Prazer – Armandinho e o Trio Elétrico Dodô e Osmar. Capa do Vinil. Reprodução.

Armandinho E O Trio Elétrico Dodô & Osmar & Moraes Moreira ‎– Viva Dodô E Osmar
Selo: Continental (3) ‎– 1-01-404-210. Formato: Vinyl, LP, Album. País: Brazil. Lançado: 1980. Genre: Latin. Fonte.

“Este representa o trio elétrico, a fubica, a guitarra baiana, a música do carnaval. Como tudo começou.”

20. Os Orixás

Saiba mais sobre este LP neste link.

“Este disco é de Ildazio Tavares, com texto na contracapa do escritor Jorge Amado e capa do artista plástico Carybé. Esse disco virou um programa de TV. É um álbum muito importante para a desmitificação do candomblé para a maior parte da população.”

As pessoas envolvidas foram porta-vozes daquela sabedoria, a maneira de trazer essa musicalidade para o disco.

Conta mais…

VisitSSA: Quando a gente olha para trás, e para essa lista, os discos citados representam uma gama da música nacional.

Telefunksoul: A Bahia sempre esteve presente em todos os momentos. Muitos dos grandes artistas que mostraram o som nacionalmente eram baianos. Até hoje, a Bahia vem representando o top 10 em anos, desde a década de 80, 90, 2000, tem música baiana no meio. Só Gilberto Gil já se faz presente em todas as décadas.

VisitSSA: E o rock na sua vida?

Telefunksoul: Do rock, eu posso conectar Raul; Mar Revolto – que foi uma banda de rock progressivo da Bahia onde Carlinhos Brown tocou (agora imagine); e posso conectar à Pitty. Colocaria também o disco Pop Chumbado de Márcio Melo, um estilo que ele criou, um rock pop, com influências groove e guitarra. Eu mesmo já tive uma banda chamada Porcos Falantes.

VisitSSA: Conta um pouco sobre a década de 90

Telefunksoul: A sonoridade da década de 90 é ímpar. A Bahia era um celeiro sensacional, todo mundo estava de olho na Bahia. Mas não tinha internet, a gente trocava demo. E, nos anos 90, era uma briga entre rock e axé. No final, alguns músicos do rock foram tocar axé (risos). E não é à toa que os músicos das bandas de axé eram excelentes, porque vieram todos do metal.

VisitSSA: Em que momento você começa a pesquisar sobre o assunto e fazer sua própria curadoria?

Telefunksoul: Desde sempre! Eu coleciono vinis desde 12 anos de idade. Eu guardava o dinheiro da merenda da escola para comprar disco. Eu chegava cheio de disco em casa e minha mãe falava: estude, meu filho. Mas eu ouvia: estúdio!

VisitSSA: você dá uma aula de música; você sabe muito e pesquisa muito. Conta um pouco sobre seus achados pela vida.

Telefunksoul: Ao mesmo tempo que eu gostava de rock, eu comecei a trabalhar com bloco de carnaval, com diretor de bloco (oh, que viagem). Aí comecei a ouvir samba-reggae (93/ 94), me encantei pela Timbalada (que ainda não se chamava assim), ia para os ensaios no Barro Vermelho, que ainda nem era o famoso Candyall Guetho Square (no Candeal).

Tinha o Black Panters, os Serpentes do Candeal, aí a Timabala surgiu e estourou, com aquela coisa da pintura dos corpos. Aí veio o Bragadá, com Tony Mola (um dos fundadores do Axé Music, que faleceu agora, em 2019), tocando a música visceral. Foi aí que comecei a me encantar pela percussão.

E foi aí também que comecei a voltar (às raízes) e perceber que o Olodum era bom, o Ilê, Muzenza… Tudo era rock. E porque o axé é bom? Porque é exatamente essa mistura, do samba-reggae, do rock, da salsa, é a mistura da África. Tudo veio da música africana, da música de rua, da música percussiva. Eu me encantei. Eu parei para perceber a musicalidade do axé.

Luiz Caldas era músico de rock e se tornou axé, Durval Lelis, do Asa de Águia, tinha uma banda de rock com influência do Pink Floyd. Essa era a tendência do mercado. E foi aí que fui abrindo meu horizonte para a música.

Aí veio o reggae também, através de um amigo que me emprestou cinco discos de reggae jamaicanos. Eu fiquei em casa e me perguntando que p*@#$a é essa?! Aí eu ouvi Congos, Gregory Isaacs e aí começou a me influenciar na mesma época que comecei a conhecer, Diamba, Adão Negro, Marrom Fumegante, Sine Calmon, Nego Vieira, entre muitos outros.

VisitSSA: Rock, percussão, reggae, música eletrônica. Sua música é uma junção da boa música baiana

Telefunksoul: Eu conheci músicos e entrei para o Negra Cor, o que era Black com percussão. Comecei a tocar em São Paulo, Rio de janeiro, Brasília, Minas Gerais. Aí já abri show para Lenine, Simone, Júlio Barreto. Aí eu conheci todo mundo, Tatau, Ivete, Claudia Leitte, já gravei com Daniela Mercury, com Carlinho Brown, com uma pá de gente da música brasileira e baiana.

Meus horizontes foram se abrindo. Por isso que hoje meu som é tão misturado assim, porque eu conheci o rock, a percussão, o reggae, o axé, a música eletrônica, o pagode. Eu englobo no me trabalho toda a música que eu gosto, essa é minha sonoridade. Por isso essa lista (de 20 vinis da matéria) é tão diversa.

Onde comprar vinis em Salvador

1. Loja Zambabem vinil, Santo Antônio Além do Carmo
2. Bazar 3, que fica na Barroquinha, perto do fim de linha.
3. O Bazar do Big, nos eventos do seguimento no Mercadão CC, no Rio Vermelho.
4. E com o próprio Telefunksoul

O garimpo

Telefunksoul não faz viagens apenas para comprar vinis. Ele aproveita quando vai tocar em uma cidade, dentro ou fora do país, e acaba garimpando, pesquisando loja e comprando.

Ele explica que quem gosta mesmo do “digging” (garimpar), não vai atrás dos famosos, mas sim atrás do que não é conhecido, porque o interessante é achar em um sebo algo que quase ninguém conheça.

“ Me amarro quando acho um disco que é pouca tiragem, que uma pessoa gravou aqui na Bahia, que só saiu aqui. É raro um disco desse, então você compra. Na verdade, eu gosto de coisas obscuras.”

Depois deste papo inspirador, já te vejo comprando vinis ou até ligando para os familiares para recrutar sua antiga coleção. Coloque a vitrola para tocar e aumente muito o som.

Por Fernanda Slama
Coordenadora de conteúdo do portal

Notas:

Sobre as gírias:

”Qual é mermão, não se passe não, eu sou boca de zero nove”* – em uma tradução livre, seria: uma maneira de chamar a atenção do outro para que ele pense antes de agir, porque do contrário ele vai ouvir a verdade ou ser dedurado por não fazer algo direito.

”Eu sou brown”* – maneira de se vestir e agir que surgiu em Salvador. Um posicionamento estético.