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O Cemitério Campo Santo, localizado no bairro da Federação, em Salvador, é o maior representante da arte cemiterial na Bahia e um dos mais significativos do Brasil. Sua história, profundamente ligada à evolução social e sanitária do estado, resultou na criação do Circuito Cultural, um percurso que revela a riqueza artística do cemitério e preserva a memória de personalidades que marcaram a história baiana.
Os passeios culturais em cemitérios fazem parte do roteiro histórico de visitação em diversas regiões turísticas do mundo — o Père-Lachaise, em Paris, e o Recoleta, em Buenos Aires, são exemplos emblemáticos que recebem milhares de visitantes todos os anos. Em Salvador, aberto ao público, é possível caminhar pelo Circuito Cultural sem mediação humana, diariamente, das 8h às 17h, seguindo os totens informativos disponíveis no local.
Criado em 2007, o Circuito Cultural do Cemitério Campo Santo tem como objetivo valorizar e democratizar o acesso ao seu vasto acervo artístico e histórico. O percurso funciona como um verdadeiro catálogo de estilos e simbologias, reunindo mais de duzentas obras catalogadas que ilustram a evolução da arte fúnebre ao longo dos séculos.
Com jazigos transformados em monumentos póstumos, as obras exibem estilos renascentista, barroco, gótico, moderno e contemporâneo, muitas delas esculpidas por artistas renomados. A arte cemiterial, com sua linguagem simbólica e estética singular, convida a uma reflexão profunda sobre a vida, a morte e a passagem do tempo.
Simbologia em pedra: a linguagem do luto
O Circuito Cultural é marcado por totens informativos que decifram a complexa simbologia presente nas esculturas. Entre os símbolos mais notáveis estão:
A Estátua da Fé, que representa a aceitação da morte e a crença na vida eterna. As Tochas Invertidas simbolizam a chama da vida sendo apagada, indicando o fim da existência, enquanto a Chama Acesa expressa a continuidade e a memória eterna. A Ampulheta Alada remete à passagem inexorável do tempo, e o Leão representa proteção, coragem e força. A Palma é símbolo do martírio, da tragédia e da vitória sobre a morte, enquanto a Mulher com Criança evoca a caridade e a misericórdia.
O Baldaquino simboliza o céu e o poder protetor; a Sagrada Família, a união familiar; o Homem com Bigorna, o valor do trabalho; e a Coruja, a vigilância e a sabedoria.
As joias do circuito
O ponto alto do circuito é o mausoléu da família do Barão de Cajaíba, que abriga a icônica Estátua da Fé. Esculpida em um único bloco de mármore de Carrara, essa obra-prima é um dos bens mais valiosos do cemitério e foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Criada em 1865 pelo escultor alemão Johann von Halbig, a peça foi encomendada pelo Barão de Cajaíba para o jazigo de seu filho, José Joaquim Francisco Gomes de Argolo. A escultura representa uma figura feminina envolta em um manto, com o olhar voltado para o céu, sendo considerada um dos maiores expoentes da arte fúnebre neoclássica no Brasil. Outra obra de destaque é o mausoléu da família Odebrecht, projeto da arquiteta Lina Bo Bardi.
Vale também conhecer a Capela de Nossa Senhora da Piedade, cuja construção foi iniciada em novembro de 1870 e concluída com a inauguração em 7 de junho de 1874. O projeto, de autoria do arquiteto francês Carlos Croesy, segue o estilo neogótico, refletindo a forte influência europeia da época. Croesy, que teve participação marcante em obras da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, imprimiu à capela características típicas desse estilo — como arcos ogivais, vitrais coloridos e um notável senso de verticalidade — elementos que conferem à edificação uma atmosfera de solenidade e elevação espiritual.
Personalidades sepultadas contam a história da Bahia
O percurso inclui a visita aos mausoléus de figuras ilustres, como o de Antônio Carlos Magalhães (ACM), político influente que foi governador da Bahia e senador da República. Destaca-se também o de Antônio de Lacerda, empresário e engenheiro responsável pela construção do Elevador Lacerda, o primeiro elevador público de Salvador, inaugurado em 1873. Outro ponto de interesse é o mausoléu de Aristides Maltez, médico e sanitarista pioneiro no tratamento do câncer na Bahia. Por fim, encontra-se o mausoléu da família de Rui Barbosa, erguido no Campo Santo, embora o corpo do ilustre jurista e político esteja sepultado no Rio de Janeiro.
Entre as personalidades mais notáveis do Cemitério Campo Santo está o poeta Castro Alves, patrono da cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras. Falecido em 1871, aos 24 anos, foi inicialmente sepultado em um mausoléu no Campo Santo, que traz a Caveira de Pirata como símbolo da transitoriedade da vida. Atualmente, seus restos mortais repousam aos pés da estátua que leva seu nome, na Praça Castro Alves.
Serviço:
Circuito Cultural do Cemitério Campo Santo
Largo do Campo Santo, S/N. Federação Salvador – BA | CEP: 40.210-320
Horário de Funcionamento: 08h às 17h (todos os dias da semana e feriados)
Contato: (71) 2203-9777
