Tradições juninas

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Tradições Juninas. Largo do Pelourinho. Centro Histórico de Salvador da Bahia.

Curiosidades, tradição e sincretismo das Festas Juninas

Piscamos os olhos e já estamos em junho, meio do ano, mês do solstício de inverno no hemisfério sul, o dia com menos horas de luz do sol, começo do inverno. A Igreja dedica o mês em devoção ao Sagrado Coração de Jesus e aos Santos Apóstolos. Este também é o mês que aconteceu a rebelião de Stonewall em 1969, dando início ao importante dia do orgulho LGBTQIA+, quando a comunidade celebra o #Orgulho de várias maneiras diferentes.

O sexto mês do ano é conhecido nacionalmente como o mês das Festas Juninas, mas, principalmente no nordeste, junho é como um segundo carnaval. Festas, crenças, hábitos e tradição da cultura popular brasileira são festejadas aqui de forma singular, e tem gente que passa o ano esperando por este mês. As festas são consideradas os principais eventos em cidades do interior da Bahia.

“Ai que saudades que eu sinto. Das noites de São João. Das noites tão brasileiras nas fogueiras”

E é ao som da música Noites Brasileiras, de Luiz Gonzaga, que te convidamos a vir conosco neste texto sobre as tradições juninas, aquelas vontades-saudades, memórias de festas vividas desde a infância, que constroem esse universo de pertencimento em torno de tudo que essas tradições representam.

Tradição e sincretismos

Por ser um dos festejos populares mais famosos do Brasil, é comum que todos tenham alguma lembrança dessa festividade: das músicas, das comidas, bandeirolas coloridas, brincadeiras, quadrilha, forró e fogos de artifício.

A festa junina tem origem nas antigas celebrações pagãs de povos da Ásia e Europa. Não tinha o caráter religioso que assumiu anos depois e que continua até hoje. Foi trazida ao Brasil pelos portugueses e adaptada à nossa cultura, que passou a celebrar Santo Antônio (13/06), São João (24/06) e São Pedro (29/06).

Segundo a professora Márcia Fernandes, em seu texto no portal Toda Matéria, ainda antes da Idade Média, no hemisfério norte, as pessoas comemoravam a chegada do verão – no mês de junho – homenageando os deuses da natureza e da fertilidade, ao mesmo tempo em que pediam uma colheita farta, principalmente de cereais, tal como o milho – que hoje é o ingrediente mais comum nas comidas típicas de festa junina. A fogueira, um símbolo característico das festas juninas atualmente, também tem origem na festa pagã, porque era costume fazer fogueiras nas celebrações.

Para o Prof. Dr. Wander de Lara Proença – Doutor em História e professor na Faculdade Teológica Sul Americana, no Brasil, as festividades juninas também se desenvolveram bastante entre as populações rurais, estabelecendo um sincretismo entre a tradição cristã, crenças e costumes indígenas e cultos de matriz africana. Desse modo, os missionários católicos, no período colonial, usavam as festas juninas como uma estratégia de conversão dos índios à sua fé.

O associado do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e professor Gildeci Leite conta que existem relações sincréticas e paralelísticas entre Xangô e os santos católicos, mais especificamente aqueles festejados durante o período junino. Entre essas relações, estão as especificidades das representações do fogo e seus significados para Xangô, São João e São Pedro. Segundo ele, o povo de axé festeja Xangô e os santos juninos ora de forma separada, ora de forma integrada, preservando, sempre, simbologias do fogo.

A cultura do Nordeste brasileiro desenvolveu hábitos próprios com relação ao mundo e às manifestações culturais. Esses hábitos foram transmitidos de geração em geração.

Comidas e Bebidas

Licor das Freiras. Convento do Desterro. Nazaré, Salvador Bahia. Foto Amanda Oliveira.

O milho é um alimento muito importante nessas comemorações. Diversas comidas típicas de festa junina levam esse ingrediente. Os principais pratos típicos de festa junina são: pipoca, paçoca, canjica, amendoim cozido, bolo de carimã, munguzá, mingau de milho e de carimã, pamonha, curau, bolo de milho, arroz-doce, pinhão, cuscuz e tapioca.

No dia 13 de junho as igrejas distribuem o “pãozinho de Santo Antônio”, que deve ser comido pelas pessoas que querem se casar. O mais tradicional em Salvador é o da Igreja de Santo Antônio, em um dos bairros mais queridos da cidade e que leva justamente o nome do santo: Santo Antônio Além do Carmo. Fora da pandemia, é tradição a trezena de Santo Antônio, onde moradores enfeitam suas casas para a celebração.

Em outros estados, as bebidas são o vinho quente e quentão. Já na Bahia, o mais tradicional é o licor, o de jenipapo, então, é o sabor queridinho. Um dos licores mais disputados em Salvador é o produzido pelas freiras do Convento do Desterro. Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus produzindo a principal bebida da festa: coisas que só se vê na Bahia!

Licor das Freiras do Convento do Desterro

As danças

No Nordeste, além de muito forró, a Festa de São João traz grupos e competições, sendo as mais famosas em Salvador, na Bahia; em Caruaru, Pernambuco; e a maior do mundo em Campina Grande, Paraíba. Chamadas Quadrilhas Juninas, têm figurinos luxuosos e cenários elaborados. Em Salvador, todos os anos, várias equipes animam a Praça da Revolução, no bairro de Periperi, no subúrbio ferroviário.

Aqui, a quadrilha junina veio da Cidade Baixa, Alto do Peru, Fazenda Grande, entre outros. Uma das mais tradicionais, a Asa Branca, que em 2022 completa 30 anos de história, tem 69 títulos e é a primeira quadrilha da Bahia a ser campeã no Campeonato Brasileiro da Federação Brasileira de Quadrilha (em 2012). Além dela, se apresentam na festa as quadrilhas Cia da Ilha, Imperatriz do Forró, Balão Junino, Forró do ABC, Pé no Chão, Capelinha do Forró, Chiado do Chinelo e Flor de Laranjeiras, além da participação especial das quadrilhas mirins Germe da Era e Forró do Luar.

Festas em salvador

Veja a programação de 2023 neste link.

Por Fernanda Slama
Coordenadora de conteúdo do Portal