
Onde a ancestralidade inspira
No coração do Curuzu, no vibrante bairro da Liberdade, em Salvador, existe um espaço singular de memória, cultura e resistência: a Casa de Maria Felipa. Mais do que um simples local de visitação, este empreendimento familiar é um mergulho profundo nas raízes afro-brasileiras, um tributo à heroína que deu nome à casa e um ponto de encontro para quem busca conhecimento.
Fundada pela família de Hilda Virgens (Diretora da Casa), a diretoria é composta por outras 12 pessoas, entre elas: Valdira Lopes (Wajeum da Mainha) e Gildete Clarinda das Virgens Silva (Intérprete da heroína Maria Felipa de Oliveira). Este lugar faz parte de uma jornada que celebra a história, impulsiona o afroturismo e reafirma a importância da negritude na construção da identidade soteropolitana.
A Casa de Maria Felipa tem o objetivo de atuar como um espaço de cultura, visando resgatar e salvaguardar o patrimônio imaterial dos moradores do Curuzu para as gerações futuras.
Título Maria Felipa na Contemporaneidade
Todos os anos, elas realizam um evento de entrega do Título Maria Felipa na Contemporaneidade. É quando Maria Felipa de Oliveira recebe, em sua casa, outras heroínas do cotidiano que dão continuidade à sua luta por igualdade de oportunidades e pelo direito à cidadania para todos os afrodescendentes.
O Título Maria Felipa na Contemporaneidade teve início em 2009. A cada edição, a diretoria da Casa escolhe entre 5 e 10 nomes de mulheres que fazem a diferença em Salvador, em outros estados e até fora do Brasil. Já foram mais de 200 mulheres homenageadas.
A primeira edição foi celebrada no dia 25 de julho – Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Naquele ano, foram homenageadas apenas mulheres do Curuzu.
Com o passar dos anos, passaram a homenagear mulheres de todo o Brasil, além de países da África e da Europa. Na América do Norte, Oprah Winfrey, apresentadora e jornalista norte-americana, foi uma das homenageadas. A data também foi alterada, sendo atualmente celebrada em 31 de julho – Dia da Mulher Africana. (informações neste link).
Outro fato é que elas se reúnem durante o ano inteiro para discutir o papel das mulheres e da Maria Felipa na Contemporaneidade. As reuniões acontecem com um grupo de mulheres da Comunidade do Curuzu, todas as quintas-feiras, das 15h às 17h. Para quem quiser conhecer, a Casa de Maria Felipa recebe visitação apenas através de agendamento.
Para anotar na agenda:
Para 2025, a 17ª edição da cerimônia de entrega do Título Maria Felipa na Contemporaneidade está marcada para o dia 31 de julho. A organização está em busca de patrocínio.
Rolê Afro
Lançado em 2024, o projeto “Rolê Afro” surge como uma iniciativa inovadora para impulsionar o afroturismo em Salvador e consolidar a cidade como a verdadeira “Capital Afro” do Brasil. Com 11 roteiros cuidadosamente elaborados e mais de 30 pontos de visitação, o Rolê Afro oferece experiências afrocentradas no Centro Histórico, Liberdade e Itapuã.
A curadoria do projeto priorizou negócios e entidades geridos por mulheres negras, com produtos e serviços que celebram a cultura afro brasileira e garantem a participação de profissionais negros em toda a cadeia turística. Mais do que passeios, o Rolê Afro é uma imersão na história, na fé, na arte e na gastronomia que moldaram a identidade negra de Salvador, convidando turistas a vivenciarem a cidade de uma perspectiva autêntica e enriquecedora.
A Casa de Maria Felipa, inclusive, é um dos empreendimentos parceiros e faz parte do roteiro “Liberdade-Curuzu Tour – Circuito Sérgio Roberto”, reforçando sua importância no cenário do afroturismo local.
Liberdade: Um bairro de resistência e cultura
O bairro da Liberdade, em Salvador, é muito mais do que um aglomerado de ruas e casas; é um símbolo vivo da resistência e da riqueza cultural afro-brasileira. Historicamente, esta região foi o refúgio e o lar de muitos negros que, após a abolição da escravatura em 1888, buscaram um lugar para reconstruir suas vidas e preservar suas tradições.
A Liberdade se tornou, então, um epicentro da negritude em Salvador, um espaço onde a identidade africana se manifesta em cada esquina, na música, na culinária, na religiosidade e nas expressões artísticas. É o berço de movimentos culturais icônicos, como o bloco carnavalesco Ilê Aiyê, que projetou a cultura do bairro para o mundo e consolidou a Liberdade como um polo de efervescência cultural e social.
Maria Felipa: A heroína da Independência que inspirou um legado
O nome Maria Felipa de Oliveira ecoa como um grito de liberdade e coragem na história da Bahia e do Brasil. Essa mulher negra, marisqueira e capoeirista, nascida na Ilha de Itaparica, foi uma figura central na luta pela Independência do Brasil na Bahia (1822-1823). Liderando um grupo de mulheres destemidas, as “vedetas”, Maria Felipa não hesitou em enfrentar as tropas portuguesas, utilizando táticas engenhosas e a força de sua comunidade.
Conta-se que ela e suas companheiras aplicaram surras de cansanção nos soldados inimigos e incendiaram dezenas de embarcações portuguesas, enfraquecendo significativamente as forças coloniais. Sua bravura e liderança a tornaram um símbolo do protagonismo feminino, negro e popular nas batalhas pela liberdade. A Casa de Maria Felipa, no Curuzu, é um justo tributo a essa heroína, mantendo viva sua memória e inspirando novas gerações a valorizarem a história e a cultura afro-brasileira.
Serviço:
Casa de Maria Felipa
Instagram: @casademariafelipa
Site Oficial neste link.
Endereço: Rua Curuzu, 197, Liberdade, Salvador, Bahia.
Horário de Visitação: Recomenda-se entrar em contato para agendamento.
Contato: Hilda Virgens, Diretora da Casa de Maria Felipa, pelo telefone 71. 9 99122-8263