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Tem samba duro no cortejo da Independência do Brasil na Bahia

Grupos de samba junino seguem desfile cívico que tem os caboclos como protagonistas

A festa do 2 de Julho, realizada desde 1824, marca o triunfo do Brasil contra o domínio português ocorrido no ano anterior, com a Independência do Brasil na Bahia. O cortejo cívico, que parte do bairro da Lapinha até o Campo Grande, arrastando uma multidão, tem como protagonistas as esculturas do caboclo e da cabocla. O casal representa a população brasileira no processo de emancipação e também os encantados das religiões afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda. E pela relação com eles que grupos do movimento conhecido na capital baiana como samba junino animam o trajeto pelas ruas do centro histórico.

Manuel Querino, explicando a origem do cortejo, no livro Bahia de Outrora, narra que a população enfeitou uma carreta do exército inimigo, após a batalha de Pirajá, e, carregando um idoso de origem indígena, seguiu pelo trajeto que vai da Lapinha até o Pelourinho (Terreiro de Jesus). Atualmente, os heróis da Independência são representados pelas esculturas do caboclo, datada de 1826, que é a imagem do índio Caramuru, e da cabocla, da índia Paraguaçu, de 1846. E, logo atrás, grupos de percussão de batida forte embalam a multidão animada ao longo do percurso.

São os grupos de samba junino. Derivado do samba de caboclo – feito com atabaques dos ritos afrorreligiosos –, o movimento do samba junino tem origem nas festas de terreiros em bairros como Engenho Velho de Brotas, Garcia, Tororó, Federação, fenômeno que, com o tempo, acabou se espalhando pela cidade.

“O negro está sempre presente nas manifestações populares e em tudo que acontece nesta cidade. Podem tentar apagar, mas não têm como tentar esconder. A ancestralidade nos deu isso”, afirma Jorge Sacramento, conhecido como Jorjão Bafafé, um dos fundadores do Grupo União e da Federação de Samba Junino do Estado da Bahia, juntamente com o seu irmão, Josemário Sacramento.

Assim, todos os anos, logo atrás do caboclo e da cabocla, os integrantes de cada grupo, com camisa temática, chapéu de palha e instrumentos de percussão, saem agregando público por onde passam. “É uma relação com a identidade cultural da cidade que pulsa ancestralidade, honra a memória. É o samba como elemento que agrega, cria laços e fomenta diversos aspectos”, afirma a historiadora Magnair Santos Barbosa, responsável pelo processo de registro especial de patrimônio cultural do samba junino, especialista em história e cultura baiana e mestre em cultura e sociedade pela Ufba.

Em 2018, foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Salvador pela Fundação Gregório de Mattos (FGM). Veja neste link: documentário Samba Junino- de porta em porta.

Ritmo forte é a marca

Os ensaios dos grupos geralmente começam no período da Semana Santa, retomam nas rezas dos santos juninos e seguem até o 2 de Julho. A característica principal é o samba duro, identificado pela batida mais acelerada e forte do timbal, marcação e tamborim, como instrumentos básicos. “É uma batida pulsante que não pode parar, não pode cansar”, explica Jorjão Bafafé.

O surgimento data da década de 70, no Engenho Velho de Brotas, berço do samba duro junino, inicialmente no Terreiro de Jagum. Assim, em vez de forró, a percussão do samba duro embalava as festas que envolviam a comunidade.

“Quando terminava a reza que minha avó Joselita fazia de Santo Antônio, a gente ia festejar. Tinha dança, comida, bebida e a tradicional fogueira. Só que começou a aumentar a quantidade de pessoas e tivemos que levar para a rua”, conta Jorjão.

Com o crescimento da festa, veio a ideia do primeiro festival, que aconteceu em abril de 1978. Os irmãos Jorjão Bafafé e Josemário e alguns amigos idealizaram o concurso, que despertou o interesse de grupos de diversos bairros. Jorjão e Josemário também são diretores do Grupo União, que completou 45 anos este ano, e comemoraram a data com a retomada do concurso no mesmo local de origem.

Veja também:

Veja também o documentário Pokett Nery – Rainha do Samba Junino, que conta a história de Pokett Nery, referência na cidade como rainha do samba duro, ritmo principal do samba junino. O curta foi contemplado pelo Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, governo federal. Veja mais neste link.

Saiba mais:
Livro O Dono da Terra – O Caboclo nos Candomblés da Bahia, Jocélio Teles dos Santos