Rolê Afro: História, luta e liberdade - irmandades e outros espaços abolicionistas

A experiência oferece uma perspectiva única sobre as expressões da diversidade cultural, da fé e da afirmação do povo negro em Salvador, percorrendo parte do sítio histórico que compõe a região reconhecida como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco, o Pelourinho.

Neste rolê, intitulado “História, luta e liberdade”, o visitante é levado a compreender algumas estratégias de afirmação e luta dos africanos escravizados no Brasil através de organizações civis, religiosas e culturais como as irmandades e outros espaços abolicionistas. Este roteiro faz parte do Rolê Afro: uma série de 11 rotas de passeios com experiências afrocentradas em Salvador.

Casa do Benin

Casa do Benin. Foto: Fábio Marconi.

O rolê se inicia na Casa do Benin, espaço inaugurado em 1988 dedicado à cultura afro-brasileira que oferece uma imersão na rica herança cultural e histórica da costa ocidental continente africano e sua influência na formação da identidade afro-brasileira em Salvador. Se por um lado o antigo reino do Daomé, onde hoje está o país Benin, foi um dos principais portos transatlânticos de escravização de africanos para as Américas entre os séculos XVI ao XIX, para além da história da escravidão, esse território revela profundas conexões históricas com o Brasil.

A realização do projeto da Casa do Benin envolveu diferentes figuras no debate sobre a valorização da negritude em Salvador. A formação do acervo é resultado das pesquisas de Pierre Verger, o projeto foi desenvolvido por Lina Bo Bardi e teve participação da Prefeitura de Salvador e o então governo do Benin. A Casa do Benin é um espaço de redescoberta da força dessas trocas culturais, revelando que o fluxo Brasil-África persiste. Saiba mais neste link.

Serviço:
Casa do Benin
@casadobenin
Rua Padre Agostinho Gomes – Pelourinho, Salvador – BA, 40026-280
Telefone: (71) 3202-7890

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Foto: Fábio Marconi

Subindo a Ladeira do Pelourinho, os visitantes terão a oportunidade de conhecer a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, observando sua arquitetura e os símbolos que refletem a influência da cultura africana nos ritos católicos.

Administrada primariamente pelos chamados Angolas, povos oriundos da África centro-sul, e crioulos (pessoas negras nascidas no Brasil), a Igreja do Rosário dos Pretos ocupou importância ímpar na cidade de Salvador para essa parcela da população negra, que à época, tinha algum lugar de voz política ativa, uma vez que participavam de uma irmandade religiosa; A igreja foi toda construída com as contribuições de pessoas negras, escravizadas ou alforriadas que não tinham livre acesso à outras igrejas da cidade fortaleza de Salvador. Ali, uniam-se também em torno de conquistar a alforria de outras pessoas escravizadas.

Neste contexto, os turistas serão apresentados à história da Irmandade dos Homens Pretos, responsável pela construção da Igreja, bem como poderão aprender mais sobre o papel das irmandades negras como espaços de socialização e integração civil e sobrevivência das pessoas negras na cidade bem como de seu papel central para o crescimento da luta abolicionista e a abolição da escravidão no Brasil. Nos fundos da Igreja é possível conhecer ainda o cemitério da irmandade, além de conhecer e refletir sobre a imagem icônica da escrava Anastácia, símbolo ressignificado da luta emancipatória no Brasil ao longo dos anos. Saiba mais neste link.

Serviço:
Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
Instagram: @irmandadedoshomenspretos
Largo do Pelourinho, s/n – Pelourinho, Salvador – BA, 40026-280

Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD)

 

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A próxima para é no Largo do Cruzeiro de São Francisco, onde será visitada a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD). Esta associação civil foi fundada em 1832 por africanos livres com o propósito de auxiliar a comunidade negra na luta pela emancipação civil através da alforria. A instituição centenária é uma das mais importantes referencias de organização social mutualista, uma das pioneiras no Brasil e se destaca pela relevância política no enfrentamento e superação do sistema escravista vigente.

Diferente de outras associações do período, a SPD reunia seus membros não apenas a partir de um ofício, mas a partir da cor preta. Ali dentro, eles garantiam através do pagamento de uma mensalidade uma aposentadoria para seus membros, auxílio-funerário e mesmo uma espécie de poupança. Dentro da perspectiva dessas soluções, a SPD demonstra como ao longo do tempo, pessoas negras foram criando diferentes estratégias para enfrentar as dificuldades advindas da escravidão, do racismo e da pobreza.

Atualmente, o espaço preserva a memória da luta pela liberdade e igualdade racial. Os visitantes terão a oportunidade de conhecer a história e o legado desta organização, que desempenhou um papel crucial na defesa dos direitos civis e emancipação da comunidade Negra. Saiba mais neste link.

Serviço:
Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD)
Instagram: @spd_sociedadeprotetora
Largo do Cruzeiro de São Francisco, 017 – Centro, Salvador – BA, 40026-010
Telefone: (71) 3322-6913

Casa da Capoeira

 

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Por fim, os turistas vão à Casa da Capoeira para conhecer mais sobre a história desta prática cultural de enorme valor histórico e educacional que mistura performance corporal, dança, música, pedagogia e luta afro-brasileira, hoje reconhecida mundialmente.

Pesquisadores apontem que a Capoeira tem suas raízes entre às populações da África Centro sul, escravizadas na costa do antigo reino de Angola. No Brasil, existem registros desta prática já no período da colônia. Apesar da provável origem no século XVIII, é no XIX que a capoeira aparece com mais veemência e figura como uma expressão negra criminalizada pelas elites e pelo estado, processo que vai se estender até a primeira República, sendo figurada mesmo como crime no código penal de 1890.

A capoeira foi sendo aprimorada e praticada por diferentes povos escravizados de outras etnias, tornando-se uma prática de auto defesa às violências da escravidão. Por isso, inúmeros são os registros oficiais de perseguição jurídica e condenação religiosa contra o jogo de Capoeira e seus sujeitos.

No Brasil a roda de Capoeira foi tombada com patrimônio imaterial pelo IPHAN, sendo reconhecida como patrimônio imaterial da humanidade em 2014 pela UNESCO. Os participantes poderão conhecer a história de sobrevivência da capoeira através de livros e registros da iconografia dos séculos XVII e XIX, bem como conhecer a história de importantes mestres Capoeiristas ao longo do século XX que foram responsáveis pelo reconhecimento público desta prática cultural afro-brasileira.

A Associação Cultural Casa da Capoeira tem como principal objetivo preservar e difundir a arte afro-brasileira através da capoeira e da dança afro, promovendo o conhecimento e incentivando o interesse pelo estudo e pesquisa da cultura afro-brasileira como um campo filosófico privilegiado. A associação oferece as seguintes oficinas: oficinas dança afro, oficina de capoeira, aula percussão, espetáculo folclórico, rolê cultural finalizando com Show folclórico.

Serviço:

Associação Cultural Casa da Capoeira
Instagram: @casadacapoeirapelourinho
R. do Açouguinho, 10 – Pelourinho, Salvador – BA, 40026-180– 1º andar
Ao lado da Praça Quincas Berro d’Água

Informações gerais do roteiro:

Duração Estimada: 4h Disponibilidade: Terças a sábados
Horários recomendados: A partir das 13h
Tipo de Experiência: Passeio guiado, caminhada com visita a espaços culturais
Ponto de Encontro: Casa do Benin
Pontos de visitação: Casa do Benin, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD), Casa da Capoeira
Incluso: Guia, Ingressos
Guias e agências neste link.

Saiba mais sobre o projeto

O projeto Rolê Afro integra o Plano de Desenvolvimento do Afroturismo realizado pela Prefeitura de Salvador através da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult) e da Secretaria da Reparação (Semur). O projeto tem apoio do consórcio formado pela Àwá Ações Afirmativas, Target Euro e Artès, no âmbito do Prodetur Salvador.

No mesmo ano (2024), também foi lançado o Comitê de Afroturismo, pioneiro no Brasil, formado por diretores de agências, empreendedores e outros profissionais ligados ao segmento, com o objetivo de ajudar a gestão municipal na elaboração de políticas públicas para a promoção e divulgação do turismo afrocentrado.

Todo o material digital do Guia de Afroturismo está disponível no link linktr.ee/roleafro.