Quem Fez o 2 de Julho: Maria Felipa

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O protagonismo feminino, negro e popular na batalha pela Independência

Reportagem: Mateus Soares / Secom PMS

O ano era 1822. A província da Bahia estava mergulhada em uma guerra intensa, com uma profunda participação popular que atuava diretamente nas batalhas pela consolidação da Independência. As ruas de Salvador e as vilas do Recôncavo testemunharam confrontos entre tropas portuguesas, o Exército Pacificador ligado a D. Pedro I, grupos de voluntários e o povo.

Surra de cansanção, fogo nos barcos, trincheiras e mais feitos heroicos de Maria Felipa

Ouça o 2º episódio do podcast especial Quem Fez o 2 de Julho

Em meio a esse cenário de luta, a Ilha de Itaparica, então conhecida como Arraial da Ponta das Baleias, tornou-se um ponto estratégico para os brasileiros que se opunham ao domínio português. Foi nesse contexto que Maria Felipa de Oliveira, uma suposta líder estrategista, desempenhou um papel significativo.

Conta-se que Maria Felipa era frequentemente avistada navegando pelo Rio Paraguaçu em direção à Ilha de Itaparica, acompanhada por suas companheiras. Armadas com peixeiras, elas vigiavam e forneciam suprimentos aos batalhões que defendiam a Independência.

Maria Felipa se destacou como uma figura importante na resistência de Itaparica. Além de utilizar seu conhecimento sobre as águas e florestas da região para abastecer aqueles que combatiam as tropas portuguesas, Maria Felipa também teria organizado trincheiras na ilha e liderado o incêndio de navios portugueses.

Felipa era a líder de um grupo de mulheres conhecido como vedetas. Em um episódio notório, elas infligiram uma surra nos soldados portugueses usando cansanção, uma planta urticante que causa queimaduras dolorosas. Enquanto a história oficial da Independência enfatizava o heroísmo de D. Pedro I e a atuação das elites do Rio de Janeiro, histórias como a de Maria Felipa sobreviveram através da memória popular.

No entanto, vale frisar, existem poucos documentos que possam confirmar os detalhes da vida dela. Como há poucos documentos sobre Maria Felipa, a existência dela é por vezes questionada. De acordo com o historiador Murilo Mello, algumas histórias sobre Maria Felipa foram compiladas pelo escritor itaparicano Ubaldo Osório. “A gente carece de uma fonte mais fidedigna ou de mais fontes, não que a de Ubaldo não seja, mas a gente precisa de uma documentação mais vasta para poder comprovar a existência de Maria Felipa”, defende Mello.

“Mas independentemente de ela ter existido ou não, a gente teve várias Marias Felipas’. Tivemos várias personagens parecidas. Marisqueiras e pescadoras que contribuíram direta e indiretamente nas lutas que estavam se processando pela Independência da Bahia”, ressaltou o professor de história.

Segundo ele, a Ilha de Itaparica sempre foi muito desejada por Portugal, por estar ‘na porta da Baía de Todos os Santos’. “Por ela ser tão importante estrategicamente no campo militar, Portugal sempre quis tomar de assalto aquele sítio. Pessoas participaram diretamente com poder aquisitivo da luta trazendo armamento, e pessoas sem poder aquisitivo também fizeram parte e foram importantíssimas nessas batalhas, tanto impedindo o acesso e a tomada de Portugal da ilha, como impedindo também da parte continental”, relata.

Ainda segundo ele, o “imaginário soteropolitano em cada período constrói uma narrativa sobre a história e sobre os personagens históricos”. “O tempo vai passando e as narrativas vão se alterando conforme o tempo, conforme as necessidades e as leituras. Então, hoje a visão que temos sobre Maria Felipa é que ela liderou as marisqueiras, pessoas com menor poder aquisitivo, e elas atraíram portugueses para a praia. Muitas dessas narrativas, que são orais, afirmam que elas atraíram os portugueses com cunho talvez sexual, e quando os soldados se encontravam de uma maneira facilmente de ser abatidos, elas deram uma surra de cansanção neles”, conta.

“Há personagens com outros nomes que tiveram feitos e uma importância fundamental nas batalhas. Pessoas que não entraram nos livros de história, que não são lembradas na historiografia, não são lembradas pelo imaginário popular, mas participaram direta e indiretamente, dando apoio moral aos soldados, alimentando os soldados. Em uma batalha não somente se participa da batalha com tiro ou com bala, tem várias participações dentro de um confronto militar”, ressalta.

Murilo Mello descreve que a Independência do Brasil na Bahia ainda é uma celebração regional, especificamente da Bahia, mas observou que tem se tornado cada vez mais um “símbolo nacional”.

Monumento

Em maio deste ano, a Prefeitura de Salvador anunciou a programação especial em comemoração aos 200 anos de Independência do Brasil na Bahia, que terá como tema “Salve nossa terra, Salve o Caboclo”. Um dos pontos altos da celebração deste ano será a inauguração de um monumento dedicado a Maria Felipa, localizado na Praça Cairu, no Comércio. Além disso, será realizada a entrega do novo Largo da Lapinha e do Memorial ao Dois de Julho.

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